A aceleração de estudos possibilita ao estudante completar as etapas do ensino em tempo mais curto. No entanto, esse processo pode se tornar prejudicial aos que se destacam na área acadêmica, mas não apresentam desenvolvimento emocional compatível com seu desenvolvimento intelectual. Esta estratégia costuma ser muito eficaz num primeiro momento, pois é uma resposta imediata às necessidades do estudante, que passa a se sentir motivado novamente. No entanto, cabe ressaltar que essa pode não ser uma alternativa definitiva, pois, em alguns casos, esses estudantes ainda precisarão do enriquecimento curricular em determinadas disciplinas.
É importante observar se no seu Estado ou município há uma legislação específica que normatize a aceleração de estudos, orientando sobre os procedimentos a serem adotados. No Estado de São Paulo, a lei que dispõe sobre esse atendimento é a Resolução SE 81/2012.
Outra forma de atendimento educacional é o enriquecimento curricular, que tem como objetivo principal “cultivar talentos, promover interesses, desafiar potenciais e despertar a criatividade do superdotado” (LANDAU, 2002 p. 29), oferecendo, por meio de um ambiente seguro, que fortaleça seu ego, a estabilidade necessária para que possa revelar seus potenciais e desenvolver suas habilidades.
O enriquecimento curricular oportuniza a exposição do estudante a vários tópicos, áreas de interesse e campos de estudo para aplicação de conhecimentos e conteúdos avançados, treinamento de habilidades e no uso de metodologias para o crescimento nas áreas de interesse. (RENZULLI; REIS, 1997).
Na sala comum, o educador pode adotar as seguintes estratégias:
Dentro da perspectiva inclusiva, o currículo escolar precisa ser flexível a ponto de atender à toda diversidade de estudantes existentes na classe, dessa forma, o educador pode modificar o currículo visando a:
Esse curso objetiva orientar, principalmente, o educador da classe comum para que ele possa aprender a elaborar uma proposta de enriquecimento curricular voltada ao atendimento de seus estudantes. Para isso, utilizaremos o referencial teórico de Joseph Renzulli, que elaborou o Modelo da Tríade do Enriquecimento, ilustrado na Figura 6.1.
Esse modelo, desenvolvido pelo Dr. Joseph Renzulli a partir de dados empíricos coletados desde os anos 1970, é um dos mais bem-sucedidos no exterior e foi desenvolvido para ser aplicado tanto na sala de recursos quando na sala comum.
Nesse processo, o estudante participa ativamente da definição dos objetivos, metas e propósito, e o educador atua como um mediador da aprendizagem, orientando-o sobre os caminhos a seguir em busca do conhecimento, a partir de um processo investigativo.
É um modelo muito inclusivo, por permitir a participação de todos os estudantes, incluindo aqueles com deficiência, principalmente nas atividades de Tipo I. As atividades de Tipo II e III acabam se voltando mais para os superdotados, pois requerem um aprofundamento maior e podem ser desenvolvidas individualmente ou em grupo.
Ao final das três etapas, o estudante deverá apresentar um produto concreto, que precisa ser compartilhado com os demais. Esse espaço de troca é fundamental para que o estudante possa mostrar o que aprendeu.
Felipe é um estudante de 9 anos, que cursa o 3º ano do fundamental. Ele é apaixonado por Geografia. Nas aulas, sempre se mostra participativo e carrega na mochila atlas, mapas e livros relacionados ao tema de seu interesse. Após uma profunda investigação, a escola reconheceu que ele possui altas habilidades ou superdotação e iniciou um projeto de enriquecimento curricular com ele.
Utilizaram a ficha O que Quero Saber para construir essa proposta, com a participação do próprio estudante e de sua mãe, que se surpreendeu quando a escola lhe comunicou sobre as habilidades do filho, mas reconheceu que, desde pequeno, ele parecia ser mais curioso que os demais.
A escola ofereceu as seguintes atividades:
Com certeza você deve estar pensando que, em algum momento, já realizou atividades desse tipo e, de fato, nossas escolas oferecem muitas oportunidades para que os estudantes tenham uma ampliação da visão de mundo (Atividade de Tipo I) por meio de passeios, excursões etc. A partir de agora, comece a observar o quão ricas podem ser essas oportunidades para aqueles estudantes extremamente curiosos e motivados e, dentro do possível, propicie espaços para que ele possa aprofundar seus conhecimentos por meio do desenvolvimento de Atividades do Tipo II e III.
Para orientar a elaboração do projeto, utilize a ficha O que quero saber e para mapear os interesses dos estudantes, você pode utilizar as fichas contidas nos Anexos do Capítulo 3: Modelo de Enriquecimento Escolar do livro “A construção de Práticas Educacionais para Estudantes com Altas Habilidades/Superdotação”.
Todas as atividades realizadas precisam ser registradas e irão compor o Portfólio do Talento Total, que deve ser desenvolvido para identificar e maximizar o potencial de cada estudante. Trata-se de um processo sistemático por meio do qual inventários de interesse, estilo de aprendizagem e de expressão e produtos elaborados pelo estudante são coletados, ajudando, tanto estudante quanto educador, a tomar decisões a respeito de seu trabalho.
Cabe destacar que o portfólio tem como metas:
O foco do portfólio é ampliar a capacidade da escola de ajudar o estudante a se tornar competente e autodirecionado, bem como incrementar o seu desempenho acadêmico. Renzulli (2001) propõe que o portfólio seja feito de forma colaborativa na qual estudantes, familiares e educadores participam. O educador, de posse das informações contidas no portfólio do estudante, pode guiá-lo delimitando algumas áreas de estudo ou enfocando um tema específico. Algumas atividades ou tópicos podem ser explorados individualmente ou em pequenos grupos.
A seguir, listamos alguns dos principais benefícios do portfólio:
Exemplos de itens que podem ser incluídos no portfólio são: fotografias de invenções, produtos ou projetos, fotocópias de prêmios recebidos ou reportagens sobre trabalhos do estudante, cópia de música, redação, livros, receitas, desenhos e programas de computador elaborados pelo estudante, jornal preparado pelo estudante, vídeos de performances do estudante (peças de teatro, concerto, por exemplo) etc.
Alguns aspectos são fundamentais e precisam ser considerados pelo educador:
Esses estudantes têm muito a contribuir para a construção do conhecimento que o grupo compartilhará. Ele pode ser um auxiliar do educador, um tutor da turma, o importante é que ele seja constantemente desafiado, para não perder o interesse em ir para a escola.