Se você tem estudado sobre autismo, certamente já ouviu falar na “terapia ABA”, como é popularmente conhecida. Mas, agora que você tem neste curso a oportunidade de estudar mais sobre esta temática, vamos entender o significado deste termo e todas as suas possibilidades de intervenção.
ABA é a sigla de Applied Behavior Analysis, podendo ser traduzida para Análise do Comportamento Aplicada. A Ciência da Análise do Comportamento Aplicada possui três vertentes (LACERDA, 2020):
Mas antes de seguirmos com nossos estudos, é importante que você reflita sobre esta pergunta:
O que você já ouviu falar sobre ABA?
Talvez você tenha ouvido falar que ABA é algo destinado apenas para a intervenção com autistas ou mesmo que se trata de um método de ensino que “robotiza” a criança para responder de maneira sempre igual!
Mas ATENÇÃO!! Isso, DEFINITIVAMENTE, não tem nada a ver com a Ciência ABA!!!
Vamos pensar sobre o significado de Ciência:
Ciência
Substantivo feminino
Sendo assim, é preciso conhecer a base teórica de maneira exaustiva para que possamos, então, opinar sobre os benefícios dessas intervenções.
Sim, de fato há muito a ser estudado, mas o importante aqui, é que você saiba da complexidade do tema, para compreender a necessidade de adquirir o conhecimento, de maneira gradual e consistente.
Resumindo, quando falamos sobre terapias baseadas na análise do comportamento, estamos dizendo que toda a intervenção que será realizada com aquele indivíduo terá como base “analisar” seus comportamentos.
Para analisar esses comportamentos, é preciso olhar para o que acontece antes de um determinado comportamento e o que acontece imediatamente após esse comportamento (reação do ambiente, ou seja, pessoas que estão próximas ao sujeito naquele momento).
Outro aspecto muito importante que você precisa considerar quando está analisando esses comportamentos é em relação à intensidade com que eles ocorrem e se estão adequados ao ambiente.
Por exemplo, podemos ter uma criança em sala de aula que não consegue permanecer sentada e corre pela sala, dando pulos e gritando. Neste ambiente, o de sala de aula, tal comportamento é bastante inadequado, prejudicando não só o aprendizado da criança como de seus colegas. Mas, vamos imaginar que essa criança esteja em um parque ao ar livre; embora esse comportamento possa ser considerado uma “estereotipia” (movimentos repetitivos), neste ambiente em particular, provavelmente não causará tantos “prejuízos” quanto causaria no contexto anterior.
Assim, quando introduzimos uma abordagem terapêutica baseada na análise do comportamento, o indivíduo e o contexto que o rodeia, são “organizados” com o intuito de construir repertórios socialmente relevantes (como por exemplo, apresentar um comportamento adequado para o ambiente de sala de aula) e reduzir repertórios inadequados.
Você pode estar se perguntando por que discutir sobre intervenção baseada na análise do comportamento se a sua atuação é em sala de aula, não é mesmo?!
Contudo, acreditamos que, à medida que você vai lendo este texto e conhecendo um pouco mais sobre o tema, percebe que “intervir” nos comportamentos de uma pessoa com TEA, passa necessariamente pelo contexto escolar!
Então, você, Educador(a), já atua nesses comportamentos há anos, mas a diferença é que agora ganhará novas possibilidades de manejar cada um desses comportamentos e desenvolver as habilidades do seu estudante de maneira mais assertiva.
Para isso, há 4 aspectos que são extremamente importantes para que você possa desenvolver seu trabalho com estudantes autistas, apresentados na Tabela 4.1.
Agora que você conheceu os 4 passos de uma intervenção pautada nos princípios da análise do comportamento, percebe o quanto tudo que discutimos até aqui está alinhado com a sua atuação em sala de aula?!
Sim! Todo(a) Educador(a) atua nos comportamentos de seus estudantes, desenvolvendo habilidades fundamentais para que esta pessoa consiga viver em sociedade. Agora, o que estamos propondo aqui é uma maneira estruturada de fazer isso em sala de aula.
Até aqui, discutimos sobre a Ciência ABA e como as estratégias baseadas na análise do comportamento podem auxiliar o/a Educador(a) no processo de ensino aprendizagem do(a) estudante com TEA.
Agora, vamos falar dos “modelos de intervenção”, mas antes, precisamos destacar algumas características do autismo que precisam ser consideradas quando vamos construir nossas estratégias de ensino:
1ª. Incentivo ao uso de imagens
A percepção do estudante quando oferecemos uma instrução associada a uma imagem que represente o que ele deve fazer auxilia de maneira determinante no processo de aprendizagem. Uma abordagem muito utilizada no TEA é a Comunicação Alternativa/Ampliada, em que utilizamos figuras para que a criança não só compreenda as mensagens que lhe são ditas, mas também possa se expressar. Na sala de aula, você, Educador(a), pode e deve utilizar recursos que facilitem a compreensão de seu estudante. E fique tranquilo, ao contrário do que possamos imaginar, utilizar imagens não faz com que a pessoa “se acomode”, não visa somente substituir a fala, não mecaniza a relação interpessoal;
2ª. Criação de condições facilitadoras
Organize o “local de trabalho” do estudante; ofereça “dicas” de onde começar e terminar uma atividade, de onde estão os materiais. Essas condições auxiliam na organização da rotina, aumentam o vocabulário e estimulam comunicação;
3ª. Eliminação dos estímulos excessivos e concorrentes em sala de aula
Alguns elementos são importantes em uma sala de aula e servem como “facilitadores” da aprendizagem (bem como mencionamos no item anterior). A grande questão é encontrar a medida certa para que eles não se tornem distratores do processo de ensino/aprendizagem. Sendo assim, tente evitar pôsteres, móbiles, texturas, porta-retratos, alfabetário, quadros, cores, listras, som ambiente. Principalmente para o estudante com TEA, esses itens atuam desviando a atenção da criança e, muitas vezes, causando uma estimulação sensorial difícil de ser controlada.
4ª. Pessoas com alterações na linguagem estão socialmente em desvantagem
Um(a) estudante com dificuldades na comunicação social, interesses e comportamentos restritos, se comporta sempre de maneira diferente que os demais estudantes com desenvolvimento típico. Nosso trabalho é sempre na busca de minimizar as diferenças, mas não podemos, de forma alguma, ter a pretensão de extingui-las. Uma pessoa com autismo nunca deixa de ser autista! Sabendo disso, devemos considerar que esses(as) estudantes muito provavelmente dependem de outras pessoas. Tal dependência parece reduzir a motivação para a interação social, provocando alterações na conduta, dificuldades com espontaneidade, exclusão social;
5ª. Mudança de concepção
Por fim, mas não menos importante, é preciso ELIMINAR “mitos” e posturas congeladas em relação às técnicas de modificação de comportamento e a conduta frente ao estudante com TEA!
Para começarmos a falar dos programas de ensino, precisamos novamente retomar a importância de utilizarmos imagens para o processo de aprendizagem dos estudantes com TEA. Diante disso, a melhor forma de conduzirmos esta prática é utilizarmos a Comunicação Alternativa/Ampliada como abordagem para o nosso percurso.
Todas as formas de comunicação que complementam, suplementam, substituem ou apoiam a fala; surgem como recurso de comunicação para aquelas pessoas que possuem compreensão da linguagem oral, mas severas dificuldades em expressar a fala, portadores de paralisia cerebral, Deficiência Intelectual, síndromes que acometam o desenvolvimento da fala, pessoas com atraso no desenvolvimento da linguagem sem etiologia específica, afásicos e autistas (NUNES, 2003).
O PECS é um sistema de comunicação alternativa, que tem por finalidade auxiliar aqueles estudantes que apresentam dificuldades na linguagem oral (fala). Desenvolvido em 1980 por Andy Bondy e Lori Frost, pesquisadores dos Estados Unidos, este sistema utiliza figuras representativas de objetos/pessoas/sentimentos/ações como forma da pessoa com dificuldade de comunicação poder expressar o que deseja e fazer comentários sobre o contexto em que está inserida. Existe um “como fazer”, um passo a passo de como ensinar esse estudante a utilizar esse sistema e é exatamente isso que é descrito no PECS.
Nesse “como fazer”, algumas etapas de aprendizagem são importantes. Então, inicialmente, ensinamos a criança “como pedir”, depois a fazer pedidos de maneira espontânea, discriminar entre diversas figuras, formar frases, responder perguntas e fazer comentários.
Agora, vamos pensar no contexto de sala de aula. Imagine seu estudante autista, com a possibilidade de expressar quando está com sede ou mesmo queira ir ao banheiro. Mais do que isso, em uma atividade de roda de conversa, possa, por meio de imagens, expressar sua opinião!
Isso é perfeitamente possível quando um sistema de comunicação alternativa é implementado da maneira correta. Então você deve estar se perguntando: Eu posso ensinar meu estudante a usar um sistema assim?!”
Certamente! Contudo é importante pensar que neste modelo de aprendizagem, o ideal é que esteja você e seu estudante, apenas, sem distratores. Além disso, não podemos nos esquecer de que estamos instituindo um Sistema de Comunicação, um recurso de linguagem. Todos nós desenvolvemos habilidades de linguagem em nossos estudantes, mas é preciso saber que há um profissional especialista para realizar esse trabalho, o Fonoaudiólogo.
Este profissional estuda por anos para compreender todas as nuances do processo de desenvolvimento das habilidades de linguagem e por isso terá mais habilidade para lidar com os entraves no processo de comunicação que provavelmente surgirão ao longo da implementação.
Mas não fique achando que você não pode trabalhar com figuras de comunicação alternativa. Uma coisa é implementar um sistema e outra é inserir na sua rotina, figuras de comunicação alternativa como dica visual para as suas aulas, isso você pode e deve fazer!!
O Modelo TEACCH é um programa de tratamento e educação para pessoas de todas as idades com autismo e problemas relacionados à comunicação. Tem como objetivo trabalhar com a pessoa ao longo de sua vida e, ao contrário do que se possa imaginar, não é apenas para crianças e jovens em idade escolar (FONSECA; CIOLA, 2014).
Mas vamos pensar no seu ambiente de trabalho, na escola, e em como você pode promover a aprendizagem de seus estudantes autistas a partir desse modelo.
A base de todo o programa de ensino está na utilização de imagens, com apoio na estrutura e combinação de vários recursos com o intuito de aprimorar a linguagem, promover a aprendizagem de novos conceitos e ainda possibilitar a mudança de comportamento (aqui pensando naqueles comportamentos inadequados que interrompem o processo de aprendizagem).
No contexto escolar, ao utilizarmos o TEACCH, possibilitamos que o estudante use de suas habilidades, peculiares ao TEA, como meio de garantir a aprendizagem. Assim, processamento visual, memorização de rotinas e interesses especiais, são utilizados como base para a produção de todo o material e ajudam o estudante a aprender, a partir de contextos que se sente mais confortável e seguro (FONSECA; CIOLA, 2014).
Gostou do vídeo?! Você notou? Toda a sala de aula possui uma estrutura física organizada para que o estudante possa ter previsibilidade das situações que ocorrerão naquele ambiente: área de trabalho em grupo, quadro de rotinas, atividades estruturadas compõem o cenário de uma sala de aula que segue as premissas deste modelo de ensino.
Você gostaria de conhecer mais sobre o tema?
Mas talvez você deva estar pensando se esse modelo, tão estruturado, caberia em um contexto de ensino regular, não é mesmo?!
Sim, há aqui um grande desafio, mas a questão é que, ao pensarmos em inclusão, precisamos garantir o acesso à educação para todos e essa é uma das formas de promover a educação inclusiva com mais efetividade. Você pode “tentar” pelo ensino tradicional, mas pode ser que você já tenha tentado dessa forma sem muito sucesso.
Então, por que não abrir espaço para novas metodologias de ensino? Ousar sair da zona de conforto e promover o aprendizado de novas habilidades, garantir o desenvolvimento cognitivo de seus estudantes, acreditar que TODOS PODEM APRENDER, basta encontrarmos a maneira mais adequada de conduzir esse processo!
Para finalizar, apresentamos algumas perguntas-chave que você, Educador(a), precisa considerar, quando for planejar seus métodos de ensino. Veja que essas perguntas valem para o processo de ensino/aprendizagem dos estudantes com desenvolvimento típico ou atípico: