Assim, o projeto de vida é um planejamento amplo. E para realiza-lo é preciso ter bases sólidas no passado, reconhecer no presente suas potencialidades de mudança e projetar o futuro.  

O vídeo é voltado para professores, destacando a importância do planejamento de aulas para obter bons resultados no processo de ensino-aprendizagem. É possível que isso não seja novidade para alguns dos educadores. Mas pense que essa mesma necessidade existe também quando se fala de outros processos. Ter um bom planejamento, refletido e colocado em prática, facilita a carreira, os estudos, o relacionamento familiar, a organização de uma vida mais saudável, entre outros. Esse é o sentido do projeto de vida: planejar como serão realizadas as mudanças necessárias para uma vida mais feliz.

Por sua importância, esse planejamento, em qualquer área, deve ser feito com cuidado e empenho:

Não se elabora um projeto de vida às pressas, traçando impulsivamente metas, propostas e prioridades. É necessário, antes de tudo, que a própria pessoa seja consciente de si mesa e que tenha presente que ela é uma unidade e totalidade formada por estruturas fundamentais que lhe permitem existir no mundo, abrindo-lhe possibilidades que deverão ser consideradas. (TEIXEIRA, Carmem Lúcia. Marcando história, p. 20. APUD: Pinheiro, Eduardo: Projeto Pessoal de Vida, p. 29).

Para construir um projeto de vida é preciso estar realmente motivado. Dispor de um tempo para a elaboração, estar aberto às “vozes” que nos rodeiam e ser honesto consigo mesmo. Esse projeto tem algumas etapas a serem cumpridas e pode ser elaborado para diversas dimensões.

Pinheiro aponta três etapas básicas para elaborar um projeto de vida:

1. Descrever onde se quer chegar (ideais, metas e sonhos).
2. Descrever onde e como se encontra (consciência da realidade).
3. Descrever o que se deve fazer (os passos necessários para realizar os sonhos e ideais).

O autor (Projeto Pessoal de Vida, p. 32-33) também ressalta que um projeto de vida deve servir para o desenvolvimento do ser humano em sua totalidade, ou seja, nas suas diversas dimensões: psicoafetiva (autoconhecimento e autocrítica), psicossocial (relacionamento com o outro), mística (relacionamento com o transcendente), sociopolítica-ecológica (conscientização e participação na sociedade) e de capacitação (capacidade de elaborar projetos e colocá-los em prática).

Com alguma variação, Mendonça Filho (Formação de educadores salesianos III, p. 69) elenca no projeto de vida as dimensões: afetivo-sexual, sociopolítica, profissional e transcendente, e destaca que essas dimensões necessitam ser constantemente recolocadas para a pessoa adulta.

Como podemos ver, trata-se da contemplação do trabalho do oleiro. É deixar-se moldar constantemente, sem medo da forma que se assume na medida em que a vida se torna projeto e não mera repetição e rotina (Mendonça Filho: Formação de educadores salesianos III, p. 69).

Veja que as duas definições não são contraditórias, pois ambas concebem o projeto pessoal de vida como capaz de possibilitar mudanças positivas para a pessoa como um todo.

Dom Bosco foi um grande sonhador. É muito lembrado pelos sonhos proféticos que teve (como o chamado “Sonho dos 9 anos”) e nos quais anteviu sua vocação e os rumos que tomaria o trabalho que iniciou. Mas São João Bosco é o “Santo dos Sonhos” por aspectos que vão além. Ele soube interpretar seus sonhos e torna-los realidade. Mesmo nos períodos de maior dificuldade sempre sonhou que o futuro seria melhor. E, principalmente, permitiu que as crianças, os adolescentes e os jovens carentes de seu tempo voltassem a sonhar; permitiu que eles tivessem esperanças e perspectivas.

Assim como Dom Bosco e Madre Mazzarello traçaram seus projetos de vida para alcançar o que almejavam - o serviço à juventude -, o educador salesiano tem uma dupla responsabilidade: elaborar um projeto pessoal de vida e ajudar o jovem, o educando, a também planejar o seu futuro. Em ambos os aspectos, o sonho é algo fundamental. Sem sonhar não há desenvolvimento, nem abertura para a mudança ou vontade de crescer.

Sonhos não se medem nem se comparam; cada um tem os seus na medida de seus pensamentos e sentimentos, de sua realidade e visão da vida. Eles podem ser de curto, médio ou longo prazos. Os sonhos são do tamanho que quisermos e nós somos do tamanho de nossos sonhos. Eles são dinâmicos: crescem, mudam, se enriquecem; vão ganhando força e cor na medida em que vamos vivendo influenciados por eles (Pinheiro, Eduardo: Projeto Pessoal de Vida, p. 58).

Há uma grande diferença, entretanto, entre o sonho e o devaneio. Quando tratamos de um projeto de vida, o sonho é a meta realizável, aquilo que pretendemos alcançar. E existem algumas qualidades de uma boa meta. Com base no livro Educação e vida: um guia para o adolescente, organizado por Antônio Carlos Gomes da Costa, listamos algumas delas.

Ao realizar a primeira etapa do projeto de vida, busque ideais positivos, ou seja, defina aquilo que você quer ao invés do que não quer. Seja objetivo: tenha clareza de quais são as metas que pretende alcançar. É mais fácil traçar o projeto para alcançar metas detalhadas.

Uma boa meta deve ser equilibrada e ecológica, respeitando a pessoa em todas as suas dimensões. Para exemplificar: se você estabelece uma meta profissional, esta não pode prejudicar sua saúde, sua vivência familiar, sua religiosidade etc. É preciso distribuir bem o tempo, para não focar em uma única dimensão e esquecer as demais. Também é interessante que as suas metas sejam significativas não apenas para você. Se o seu sonho for compartilhado com outras pessoas, elas serão suas aliadas no projeto. Além disso, é indispensável ter ética: para alcançar seus sonhos, não é preciso pisar nos sonhos dos outros nem entrar em um jogo de “vale tudo”.

São apontadas ainda por Costa como características positivas de uma meta que ela seja comensurável, realista e relembrada. Isso significa que o projeto de vida não é a busca de um sonho solto no ar. É importante sonhar com o futuro sim, mas com os pés no presente, analisando e avaliando, periodicamente, o que foi feito para que o sonho se torne realidade.

A segunda etapa na elaboração de um projeto de vida é a consciência da realidade. Ter consciência significa mais que conhecer; é também acolher essa realidade. Não há como alcançar uma meta sem a percepção do quão distante ela está do “hoje”.

É preciso ter consciência de quem somos. A partir daí, e aceitando esta realidade, somos, então, convidados a valorizá-la ou transformá-la, dependendo da situação (Pinheiro, Eduardo: Projeto Pessoal de Vida, p. 69).

Para Pinheiro, essa tomada de consciência implica em conhecer as próprias forças (dons, capacidades, potencialidades, qualidades, oportunidades, conquistas...) e aceitar as fraquezas (medos, limites, fragilidades, fracassos). Em perceber os estímulos e elementos facilitadores, como “a visão global de si próprio, o valor da subjetividade e da autonomia, abertura ao novo, saúde, amizade, boas leituras, vivência em grupo, espiritualidade” (p. 69) e também os obstáculos, riscos e desafios que deverão ser enfrentados para alcançar a meta desejada.

Não é fácil olharmos a própria vida com objetividade e encararmos a nossa própria verdade; mas se faz necessário para se poder construir algo de real. Este exercício nos coloca frente a frente com nossos dons e nossos limites. Quem é otimista por natureza tem dificuldades em reconhecer os limites, e quem é pessimista reluta em perceber os muitos valores que possui (Pinheiro, Eduardo: Projeto Pessoal de Vida, p. 72).

É interessante destacar que tanto o excesso de otimismo como o de pessimismo são prejudiciais à realização de um projeto de vida. É necessário conhecer e aceitar os próprios limites sim. Mas também é fundamental reconhecer e valorizar as qualidades. Um dos pontos principais da proposta educativa salesiana é justamente promover a autoestima e a confiança dos jovens em si mesmos, assim como ressaltar a importância do educador. Confiar em seus próprios dons é condição essencial para elaborar um projeto de vida coerente e factível.

Encontro de oratórios salesianos em São Paulo

Ainda com relação aos limites e potencialidades, Pinheiro (p. 76) destaca um grande problema: o gerenciamento dos fracassos. Eles podem ser grandes ou pequenos, muito sentidos ou apenas tropeços, mas o fato é que o fracasso faz parte de todo processo de amadurecimento e, mesmo com um projeto de vida bem elaborado, nem tudo vai sair como o planejado.

Mesmo porque o simples fato de sonharmos com algo bom ou programarmos bem nossos compromissos não nos isenta da possibilidade de experimentar o gosto amargo da derrota, da frustração, da decepção. Nem tudo depende somente de nós; pessoas, estruturas, circunstâncias, momentos, imprevistos podem derrubar ou minar o que construímos com tanto sacrifício. (Pinheiro, Eduardo: Projeto Pessoal de Vida, p. 76).

Isso não deve nos desesperar. Não se pode “dar poder” ao fracasso e deixar que um contratempo, ou mesmo uma derrota, impeça a pessoa de continuar sonhando e projetando o futuro.

Um dos motivos mais comuns para que um projeto fracasse é a falta de uma “ponte” estruturada entre o presente e o futuro planejado. Muitas pessoas se contentam em sonhar e não se preocupam com o que terão de fazer, concretamente, para sair de sua situação presente e alcançar a meta projetada.

Em qualquer projeto – social, grupal, comunitário, pessoal, empresarial – os ideais só poderão ser atingidos se, a partir da realidade constatada e refletida, se determinar passos, linhas de ação bem concretas. (Pinheiro, Eduardo: Projeto Pessoal de Vida, p. 85).

São as linhas de ação que “amarram” presente e futuro, tornando possível caminhar, passo a passo, de um para o outro.

Assim como no exemplo apresentado pelo programa, a “grande viagem” da nossa vida necessita de um planejamento, de um pensar prévio. Não basta saber onde estamos e onde pretendemos chegar. É preciso traçar um percurso e conhecer o máximo possível do caminho antes de percorrê-lo. Dessa forma, mesmo que encontremos obstáculos, ou que mudemos de rota, as mudanças e os desafios serão mais fáceis de enfrentar.

Os passos não são meras atividades mas, sim, atividades dotadas de significado. Não são simples ações, mas algo decidido a partir dos sonhos que se tem e da realidade em que se encontra. Por isso, somente depois de termos clareza das metas que queremos atingir e de termos consciência do chão em que estamos pisando é que poderemos com segurança determinar o que devemos fazer. (Pinheiro, Eduardo: Projeto Pessoal de Vida, p. 87).

Definir os passos desse caminho é uma tarefa exigente, à qual é preciso dedicar tempo e reflexão. Isso porque planejar um percurso implica em fazer escolhas: O que é prioritário? O que pode ser deixado em segundo plano? Quanto tempo será necessário para dar cada passo? E quais são os caminhos alternativos? Todas essas questões precisam ser pensadas.

Ao decidir como será concretizado o sonho projetado, o que se faz é escolher os rumos que a vida vai tomar. É tomar o destino nas mãos, saindo da “roda viva” da rotina e de tantas coisas que são feitas sem pensar. Como afirma Pinheiro:

Quem não determina o que fazer, acaba sendo manipulado, constrói muito pouco, não sai do lugar, não progride, não avança, não experimenta a alegria das conquistas que perpassam a vida; e pode até acabar vivendo insatisfeito como quem sabe que faz “muitas” coisas, mas sem sentido! (Pinheiro, Eduardo: Projeto Pessoal de Vida, p. 90).

A partir do discernimento sobre o que fazer e em que ordem, cabe esmiuçar bem cada ação. Ao descrever um passo, pode-se perceber com maior clareza sua importância, ou entender que ele não é tão necessário.

A última parte do livro Projeto Pessoal de Vida é dedicada à apresentação de diversos modelos e tabelas para que o leitor possa escrever o seu PPV. Isso é algo muito importante: escrever torna o projeto palpável. Permite reler para lembrar os compromissos assumidos, perceber os avanços feitos no decorrer do tempo e redefinir prazos.

Chegamos ao final desta aula e também do curso de Salesianidade para Educadores Iniciantes. E, novamente, destacamos: o projeto de vida pode ser um grande sonho a realizar ou uma meta a curto prazo. Pode se referir a algo relacionado ao trabalho, à vida pessoal, ao estudo, à família ou à fé. O projeto de vida, no contexto da salesianidade, é a certeza de que cada pessoa tem potencial para construir um futuro melhor, para si e para os outros.

Fechamos este curso com uma frase que é atribuída a Dom Bosco e que expressa, em poucas palavras, o porquê de concluirmos essa formação de educadores com a reflexão sobre o PPV: “A vida é um presente de Deus. O que fazemos dela é o nosso presente a Ele”.