clique abaixo para navegar
Colégio Salesiano de Aracaju, projeto de combate ao Aedes Aegypti, 2016
As três primeiras aulas deste curso foram dedicadas a explicar o conceito de “salesianidade” e a conhecer a história de Dom Bosco e de Madre Mazzarello. Foram apontados os elementos fundantes da proposta educativa pastoral salesiana, e como eles se constituíram ao longo da história. A partir desta aula, vamos aprofundar a reflexão sobre algumas características essenciais desse “jeito salesiano de educar”, cujo eixo é o Sistema Preventivo de Dom Bosco.
4.1 Introdução
No final do século XIX, a cidade de Turim, na Itália, vivia as consequências de um país recém-industrializado. Dom Bosco encontrou nessa cidade, no início de sua vida como padre, massas de jovens que perambulavam pelas ruas, sobrevivendo de “bicos” e de pequenos furtos, totalmente carentes de afeto, de educação, de proteção. Eram jovens lançados a uma vida que não compreendiam, marginalizados pela sociedade, abandonados por aqueles que deveriam guiá-los. Também a experiência junto aos jovens encarcerados fez com que Dom Bosco percebesse o quanto era inútil punir sem dar àqueles meninos outra perspectiva de vida.
Assim, o Sistema Preventivo de Dom Bosco não foi elaborado a partir da reflexão puramente teórica, mas do pensar sobre a prática e a realidade observada por ele. Como afirma Carlo Nanni: “O sistema preventivo não nasceu junto a uma mesa de escritório. Não é fruto exclusivo de literatura pedagógica. Sua fonte primária é Dom Bosco, sua história, sua pessoa, sua santidade, sua paixão educativa” (NANNI, Carlo. O Sistema Preventivo de Dom Bosco, hoje, p. 13).
A ideia básica intuída por Dom Bosco, e depois elaborada como um sistema educativo, consistia em afirmar que, por meio da educação, era possível guiar os jovens para o caminho do bem, prevenindo assim futuros problemas sociais. Resumida em uma das frases mais famosas de São João Bosco, a proposta era formar “bons cristãos e honestos cidadãos”, que contribuíssem positivamente para o desenvolvimento social. O próprio Dom Bosco afirmava a existência de dois sistemas para a educação da juventude: o repressivo e o preventivo. O repressivo consiste em fazer conhecer a lei e depois vigiar para saber se ela é cumprida, punindo os transgressores. Já, o modo preventivo faz o oposto:
O Sistema Preventivo [...] consiste em tornar conhecidas as prescrições e as regras de uma instituição, e depois vigiar de modo que os alunos estejam sempre sob os olhares atentos do Diretor ou dos assistentes. Estes, como pais carinhosos, falem, sirvam de guia em todas as circunstâncias, deem conselhos e corrijam com bondade. Consiste, pois, em colocar os alunos na impossibilidade de cometerem faltas. O sistema apoia-se todo inteiro na razão, na religião e na bondade. Por isso, exclui todo o castigo violento e procura evitar até as punições leves” (DOM BOSCO. O Sistema Preventivo na educação da juventude, 1877. APUD NANNI, Carlo. O Sistema Preventivo de Dom Bosco, hoje, p. 24)
Cabe ressaltar que, embora tenha sido elaborado a partir da prática pedagógica com os jovens mais carentes da Turim de então, o Sistema Preventivo de Dom Bosco não se restringe aos jovens em situação de risco social. Ao longo da história, ele foi (e ainda é) aplicado na educação básica e no ensino superior; nas escolas formais e nos cursos profissionalizantes; nos centros juvenis e oratórios, entre outros.
Isso porque a grande inovação proposta por Dom Bosco foi considerar os jovens em sua totalidade, como uma parcela da população que necessitava de cuidados específicos, mas que também podia ser protagonista das mudanças sociais e de sua própria vida. Isso foi proposto no final do século XIX, uma época em que crianças e adolescentes eram vistos como “adultos pequenos”, em que eram comuns os castigos físicos nas escolas, em que não existia qualquer lei de proteção aos jovens trabalhadores... Dom Bosco acreditou na juventude e no papel preponderante da educação como elementos de transformação social.
Pausa para o vídeo...
Assista com atenção a este trecho do vídeo “A atualidade do carisma de Dom Bosco – Parte 2”, no qual a irmã Ivanette Duncan de Miranda fala sobre a história e as bases fundamentais do Sistema Preventivo de Dom Bosco.
Conforme apontava Dom Bosco, esse Sistema Preventivo apoia-se em um tripé composto por razão, religião e “amorevolezza” – palavra italiana para a qual não há tradução literal, mas que pode ser entendida como “bondade” ou, mais precisamente, “amor educativo”.
O Sistema Preventivo conjuga razão, religião e "amorevolezza", princípios que indicam uma visão harmônica da pessoa dotada de razão, afetividade, vontade, abertura ao transcendente. Nesse sentido, o Sistema Preventivo é um exemplo de humanismo pedagógico cristão, onde a centralidade da fé está indissoluvelmente unida à apreciação dos valores presentes na história. (INSTITUTO FILHAS DE MARIA AUXILIADORA. Para que tenham vida e vida em abundância - Linhas orientadoras da missão educativa das FMA. p. 19).
A seguir, você poderá compreender melhor o tripé de sustentação do Sistema Preventivo e como os três elementos se relacionam.
4.2 A razão
Uso do Material Didático Digital no Colégio Salesiano São José, em Campinas, SP
Quando Dom Bosco elaborou o seu Sistema Preventivo, no final do século XIX, a Itália e a Europa em geral estavam impregnadas pelo iluminismo e pelo liberalismo. O pensamento preponderante naquele momento era o da razão, da ciência, do humanismo. Na época – como de certa forma ocorre ainda hoje – ciência e religião eram vistas, muitas vezes, como concepções de mundo antagônicas. As explicações racionais para o desenvolvimento da natureza e da história humana conflitavam com as explicações baseadas na religião, na crença.
Mas, para Dom Bosco, essa era uma falsa discussão. Ele não apenas incorporou a racionalidade iluminista à sua prática pastoral, como incluiu a razão como um dos pilares do seu Sistema Preventivo. Para ele, era essencial que o educador se fizesse entender; que ele pudesse explicar, provar, convencer com argumentos. Ao mesmo tempo, ele propunha uma educação que incentivava o pensamento crítico e a ação propositiva dos jovens, para alcançar objetivos concretos.
É significativo relevar que, há mais de cem anos, Dom Bosco atribuía grande importância aos aspectos humanos e à condição histórica da pessoa, à sua liberdade, à sua preparação para a vida e para uma profissão, ao compromisso com as liberdades civis, num clima de alegria e de generosa doação ao próximo. [...] Em síntese, a razão, na qual Dom Bosco crê como um dom de Deus e como tarefa indispensável do educador, indica os valores do bem, enquanto aponta para os objetivos a alcançar, os meios e a maneira de usá-los. A razão convida os jovens a uma relação de participação com os valores compreendidos e compartilhados. Ele a define também como racionalidade, referindo-se ao necessário espaço de compreensão, de diálogo e de paciência inalterável que o não fácil exercício da racionalidade exige (João Paulo II, Carta Juvenum Patris, 31 de janeiro de 1988, no10. IN: NANNI, Carlo. O Sistema Preventivo de Dom Bosco, hoje, p. 31).
No Sistema Preventivo, conforme já apresentado, a racionalidade é considerada como parte de um conjunto equilibrado e indissolúvel, que inclui a religião e o amor educativo. Um elemento não funciona sem o outro.
A dimensão metodológica da razão que caracteriza o Sistema Preventivo orienta a proposta cultural para a descoberta das necessidades profundas dos jovens e de suas demandas, de modo a despertar um consenso racional. Orienta ainda a focalizar a importância da cultura, do pensamento crítico, da busca da verdade, no confronto e no diálogo.
Essa proposta evidencia uma concepção de pessoa e de sociedade, que se inspira nos valores evangélicos e que abre a um diálogo respeitoso e construtivo com outras concepções de vida (INSTITUTO FILHAS DE MARIA AUXILIADORA. Para que tenham vida e vida em abundância - Linhas orientadoras da missão educativa das FMA. p.22).
A razão na perspectiva proposta pelo Sistema Preventivo permanece hoje como um elemento fundamental da educação salesiana. Nos “tempos líquidos” de uma sociedade em que prevalece o individualismo, é essencial formar cidadãos críticos, conscientes, com autonomia e capacidade de escolher diante de situações conflitantes. Pessoas que podem assumir responsabilidades - tanto na elaboração do próprio projeto de vida, como na construção de uma sociedade melhor – tendo em mente valores como a justiça, a solidariedade, o amor ao próximo, o respeito.
Ao refletir sobre a atualidade do Sistema Preventivo, Carlo Nanni coloca essa como uma das tarefas que pode cumprir o “educador racional” nos dias de hoje.
De fato, Dom Bosco dizia aos jovens: “Sem vocês, eu não posso fazer nada”; “juntos, faremos milagres”. Mais do que por os jovens “no centro”, eles devem ser chamados em causa, convidados a serem coprotagonistas, junto com os outros e com os educadores, para agir e empenhar-se a fim de serem corresponsáveis pelo próprio crescimento e pelo crescimento de todos. É preciso ajudá-los a se tornarem corresponsáveis, permitindo-lhes, e criando as condições de o serem, de participar da vida famíliar, escolástica, paroquial, societária. (NANNI, Carlo. O Sistema Preventivo de Dom Bosco, hoje, p.29-30).
A dimensão da razão perpassa toda a prática educativa salesiana, no dia a dia de escolas, universidades e obras sociais. Em alguns projetos e atividades, essa dimensão é mais evidente, como na notícia apresentada a seguir:
Protagonismo juvenil e consciência política
Quarta, 28 Setembro 2016.
Escrito por Comunicação Rede Salesiana de Escolas
[...]
A Organização das Nações Unidas (ONU) realizou em 2016, pela primeira vez, um diálogo com membros da sociedade civil de todo o mundo para a escolha do novo secretário-geral da entidade. Os candidatos responderam a perguntas selecionadas entre questões enviadas de todo o mundo.
Um grupo de alunos do Colégio Dom Bosco, unidade da Rede Salesiana de Escolas em Rio do Sul, SC, se destacou nesse projeto. Liderados pelo professor de História, Cleiton R. Baldo, os alunos tiveram suas perguntas selecionadas e divulgadas pela ONU, tanto nas fases iniciais do diálogo, que foram gravadas, como na etapa presencial, que ocorreu 12 a 15 de julho, em Nova York, Estados Unidos.
O incentivo à participação no projeto veio do próprio professor Cleiton, que soube da proposta da ONU por acompanhar a instituição e tudo o que se refere ao tema. Foram selecionadas as questões dos alunos salesianos Cristian Piehowiak, Leonardo Buzzi e Letícia Meyer, na primeira fase; e Laura Sofia Zandonai e Guilherme Fronza, na segunda fase. Eles levantaram discussões acerca do Conselho de Segurança, da desigualdade social e da violência contra a mulher. Em cada fase, as perguntas dos alunos ficaram entre as 30 selecionadas, entre mais de mil participantes de todo o mundo. Leonardo e Letícia tiveram seus questionamentos gravados e apresentados para os candidatos, assim como Laura e Guilherme. Já, o aluno Cristian pode fazer sua pergunta pessoalmente, durante a Assembleia Geral da ONU.
“A experiência foi fantástica. Não é só o fato de ter seu trabalho reconhecido pela ONU, mas você perceber uma ressignificação do processo de ensino-aprendizagem de História. Nunca, em toda minha atividade profissional, vi alunos sentindo uma História tão viva, não mais desconectada do presente e internalizando sua extrema significância para a construção de um futuro melhor”, avalia o professor Cleiton.
O entusiasmo dos alunos corrobora a fala do educador. “Levo dessa experiência maior aprendizado, maior conhecimento de mundo e das pessoas, maior entendimento da História e seus processos e, especialmente, participação efetiva em decisões tão importantes para o mundo”, afirma o aluno Leonardo Buzzi.
Já, Cristian Piehowiak diz ter descoberto um caminho para a mudança da realidade com base na participação social. “Fiquei muito mais interessado em saber sobre as decisões tomadas em âmbito mundial, além de despertar a vontade de criticar e participar de algumas ações realizadas pelos órgãos municipais, estaduais, federais e mundiais. Compreendi que uma verdadeira mudança é possível. Começamos pelo Colégio Dom Bosco, quando tomamos essa iniciativa de enviar nossos questionamentos para a ONU. Acredito que são essas pequenas atitudes que podem mudar o mundo”.
(Disponível em: http://www.boletimsalesiano.org.br/index.php/educacao/item/7147-protagonismo-juvenil-e-consciencia-politica Acesso em: 2 dez 2016).
Este é um exemplo, entre muitos que poderíamos escolher, de como o educador salesiano pode incentivar o aluno a ir muito além do conteúdo curricular. Os alunos partiram das informações obtidas na aula de História e de sua realidade no colégio, para refletir sobre os principais problemas enfrentados em âmbito mundial. Formularam perguntas sobre como resolver esses problemas e tiveram confiança suficiente para encaminhá-las a um organismo internacional. Foram selecionados pela qualidade e importância de seus questionamentos. É uma experiência que ficará marcada para sempre e que já mudou a vida desses jovens.
Isso foi proporcionado por um educador consciente de seu papel como aquele que propõe, instiga, orienta os educandos. Isso foi possível por ser uma escola que abre espaço para iniciativas como essa. Esse é o significado da “razão” na prática educativa salesiana.
Também faz parte da “razão” salesiana oferecer aos alunos o que há de mais avançado na área educacional, tanto no que se refere aos conteúdos nas diversas áreas do conhecimento, na tecnologia dos equipamentos e laboratórios, como também na eficiência pedagógica dos educadores. As instituições salesianas são chamadas a ser unidades de excelência acadêmica, e a formação dos educadores é fundamental para a realização dessa proposta.
Nesse sentido, a dimensão da razão pode – e deve – ser desenvolvida durante toda a vida. É um processo permanente, assim como o aprendizado é contínuo. Nas casas salesianas, há sempre uma preocupação de que os educadores passem por processos de formação continuada, como cursos, palestras, atividades com o grupo de colaboradores da própria obra ou em conjunto com os educadores de outras unidades. Um exemplo é este curso de Salesianidade para Educadores Iniciantes, oferecido por meio do Centro Salesiano de Formação (CSF), um serviço da Rede Salesiana Brasil totalmente direcionado para a formação continuada.
4.3 A religião
Oratório Santa Isabel, Inspetoria Salesiana Missionária da Amazônia
Outra coluna de sustentação do Sistema Preventivo de Dom Bosco é a religião. São João Bosco dedicou toda a sua vida aos jovens porque compreendeu que essa era a missão que Deus reservara para ele. Assim foi também com Santa Maria Domingas Mazzarello, que se sentiu chamada a educar as meninas a ela confiadas. Para ambos, assim como para os que seguiram esse carisma, a educação da juventude coloca-se como serviço ao próximo, no seguimento dos passos de Jesus, o verdadeiro Mestre.
Porém, é preciso compreender como essa dimensão religiosa se insere no Sistema Preventivo. Não se trata de colocar mais aulas de religião nas escolas e obras, ou de exigir que a fé católica seja adotada por educadores e educandos. O que esse sistema propõe, na verdade, é que os valores do Evangelho sejam inseridos na prática educativa. Porque, sem esses valores, a razão e a bondade educativa tornam-se vazias e inócuas.
No diálogo com a “razão”, a “religião” na educação salesiana busca o sentido da vida, abre perspectivas de realização pessoal e da comunidade, indica ações concretas a partir da fé. É também uma religião alegre, participativa, que apresenta o seguimento de Jesus como algo agradável e prazeroso, nunca como um fardo ou uma obrigação.
A “religião salesiana” é uma religião popular, simples, que vai ao essencial (“amor a Deus e amor ao próximo”), sem muitas complicações [...] a fé não é só a dos teólogos, é também a da tradição, da gente comum que faz caridade, serviço, voluntariado. E a razão não é só a dos filósofos, é também a da literatura, da matemática, da técnica, do computador. Ver essas formas de “ratio”, à luz da fé e não contra ela, é importantíssimo para o sistema preventivo (NANNI, Carlo. O Sistema Preventivo de Dom Bosco, hoje, p.36).
No Sistema Preventivo, a religião conecta-se também com a bondade, a “amorevolezza”. Nesse sentido, ressalta o amor de Deus, a misericórdia, o perdão. Conforme Carlo Nanni, “é a religião da ‘boa nova’, do Evangelho, das bem- aventuranças, de Jesus que nos chama de amigos e não de servos, que nos convida a buscar o Reino de Deus e a sua justiça”.
Pausa para o vídeo...
No vídeo a seguir, produzido para a Rede Salesiana Brasil de Escolas, o professor Antonio Boeing explica de maneira sucinta o que é o tripé de sustentação do Sistema Preventivo, enfatizando a dimensão religiosa. Assista ao vídeo “Sistema Preventivo”.
Por fim, mas não menos importante, a dimensão religiosa do Sistema Preventivo é acolhedora e respeitosa, apresentando ao jovem o caminho para o bem segundo os valores do Evangelho, sem, entretanto, desrespeitar outras confissões religiosas.
Educar promovendo cultura significa investir corajosamente na preventividade em todos os níveis. Isso requer um conhecimento qualificado do Sistema Preventivo, que ajuda a promover a formação de homens e mulheres com uma fé adulta, convicta e testemunhada na realidade eclesial e sociocultural. Para todos, também para os jovens pertencentes a outras confissões religiosas, o nosso modo de educar pode ajudar a ler criticamente a realidade e a cultura mediática; pode despertar, especialmente os jovens, a participar responsavelmente da vida social e política, e a oferecer sua contribuição específica em nível cultural e profissional (INSTITUTO FILHAS DE MARIA AUXILIADORA. Para que tenham vida e vida em abundância - Linhas orientadoras da missão educativa das FMA. p.22-23).
4.4 A amorevolezza
Oratório Dom Bosco, no Recife, participa do Nordestão Salesiano, 2016
Dom Bosco afirma categoricamente que “educar é obra do coração”. Não há como desenvolver uma prática educativa sem amor, sem cuidado, sem carinho. Seja em sua prática pastoral e educativa em meio aos jovens de sua época, na elaboração propriamente de seu Sistema Preventivo, como em diversos escritos e cartas, João Bosco sempre deixou essa dimensão muito evidente.
No início de sua obra, em 1847, Dom Bosco afirmou na introdução ao livreto Jovem Instruído: “Meus caros, eu amo a todos de coração. Basta que vocês sejam jovens para que eu lhes queira muito”. Aos educadores e religiosos que com ele trabalharam insistia para que agissem “como pais amorosos”, para que se colocassem ao lado dos jovens, para que dessem conselhos e não castigos. Ao seu primeiro sucessor, o padre Miguel Rua, aconselhou: “Procura fazer-te amar, mais do que fazer-te temer”, conselho que estendeu depois a todos os educadores. Na Carta de Roma, já em 1884, dizia que não basta amar, é preciso que os jovens sintam que são amados.
“Quem sente que é amado, ama, e quem é amado consegue tudo, especialmente dos jovens. Esta confiança estabelece uma espécie de corrente elétrica entre os jovens e os superiores. Os corações se abrem e eles dão a conhecer as suas necessidades, mostram todos os seus defeitos” (DOM BOSCO. Carta de Roma, 1884. APUD NANNI, Carlo. O Sistema Preventivo de Dom Bosco, hoje, p. 41)
Assim, o Sistema Preventivo exige, tanto quanto a razão e a religião, também o amor educativo. Esse amor precisa estar, antes de tudo, no coração do educador.
Pausa para o vídeo...
O padre Marcos Sandrini, em um Diálogo de Formação sobre a pedagogia do amor, traz alguns dados interessantes sobre o conceito que os alunos têm de seus professores e o conceito que os professores têm de seus alunos. Assista a um trecho do vídeo “Pedagogia do Amor”.
É preciso que educar seja, como indica atualmente a Igreja Católica, “uma paixão que se renova”. Uma pessoa desmotivada, infeliz com sua realidade profissional, que não acredita no potencial de seus alunos, também não consegue ser exemplo e conquistar a confiança dos educandos, tampouco contribui com uma educação transformadora.
A seguir, há outro exemplo de aplicação do Sistema Preventivo na prática, desta vez com ênfase no “amor educativo”.
Presença alegre no pátio escolar
Sábado, 09 Julho 2016.
Escrito por Camila Santos
Você sabe brincar de diabolô? Pois saiba que essa brincadeira, de nome pouco comum, é bem conhecida entre os alunos do 1º ao 5º ano do ensino fundamental I do Instituto Auxiliadora, em São João Del Rei, MG. Introduzido pela irmã salesiana Maria Carolina Ribas, 90 anos, o diabolô (brinquedo de origem chinesa) é um instrumento de malabar, feito com uma corda presa por duas hastes, que possibilita várias acrobacias. “Assim que cheguei a São João Del Rei pensei em oferecer algo novo para os alunos menores, do ensino fundamental I. Então, levei os meus diabolôs, que carrego sempre comigo, e apresentei às crianças, fazendo algumas acrobacias...”, conta irmã Carolina. A novidade logo atraiu os alunos, que quiseram aprender a manusear o brinquedo.
[...]
Irmã Carolina tem 90 anos de idade e 68 de profissão religiosa. Natural de Curitiba, PR, ela teve o seu primeiro contato com a comunidade salesiana quando ficou hospedada por seis meses no Colégio de Santa Inês, em São Paulo, com a bolsa de estudos do governo do Paraná para alunas de Serviço Social. “Encantei-me ao ver as irmãs brincando com as internas. Em minha cidade nunca havia visto isto. Decidi que queria ser uma irmã assim: alegre, no meio de alunos de qualquer faixa etária”.
[...]
Outro projeto implantado por irmã Carolina no Instituto Auxiliadora é o Caça ao Tesouro, que estimula os alunos a procurarem mensagens de Dom Bosco e Madre Mazzarello escondidas no pátio da escola ou pelos corredores externos. Quem encontra a mensagem deve lê-la, dizer como a entendeu e, em seguida, recebe um brinde. “No início, era preciso ter os brindes para dar aos alunos do fundamental I. Depois, diversas mães, animadas pelo entusiasmo dos seus filhos, começaram a colaborar com brinquedos, balas, livros infantis e coisas que toda criança gosta”, afirma irmã Carolina.
Atualmente, além dos projetos de recreação, a religiosa é orientadora educacional de encontros com jovens do ensino médio, faz parte da equipe de Pastoral do Instituto e contribui com a presença diária como assistente, nos períodos da manhã e da tarde – momentos em que aproveita para orientar os alunos a viverem uma vida feliz, na presença de Deus, no amor a Nossa Senhora Auxiliadora. “Crio situações de amizade com essas atividades. Os pais são sensíveis ao trabalho que realizo e ajudam muito com doações para o bazar dos funcionários e famílias carentes. Vivo o meu dia a dia de salesiana como se fosse uma juniorista, entusiasmada pelo carisma de Dom Bosco e Madre Mazzarello”, conclui irmã Carolina.
(Disponível em: http://www.boletimsalesiano.org.br/index.php/educacao/item/6773-presenca-alegre-no-patio-escolar Acesso em: 2 dez 2016
A Irmã Carolina é uma senhora de 90 anos. Ela não é mais criança, nem adolescente; e não tenta parecer “jovem” em meio aos alunos do colégio em que trabalha. “Estar junto” com o jovem não quer dizer agir ou pensar como ele. Irmã Carolina é respeitada e querida pelos alunos, na mesma medida em que os respeita e lhes quer bem. Ela apresenta aos meninos e meninas de hoje o que traz de sua própria infância e de sua experiência como educadora e religiosa. A amizade e o carinho vêm naturalmente, como resultados de seu amor, seu carinho e sua dedicação.
As duas notícias apresentadas como exemplos do Sistema Preventivo são provenientes de escolas, não de obras sociais. Isso porque esse “jeito salesiano de educar” está tão presente nas obras quanto na educação básica ou no ensino superior. É com base no Sistema Preventivo de Dom Bosco que todas as casas salesianas buscam oferecer ao educando uma formação integral, voltada a torná-lo protagonista de sua própria história. O sistema pode ser representado conforme a figura a seguir:
Ampliando os Saberes...
Para visualizar notícias e conhecer mais sobre outras obras sociais, escolas e instituições de ensino superior salesianas, acesse os portais:
Boletim Salesiano – www.boletimsalesiano.org.br
Rede Salesiana Brasil – www.rsb.org.br
Os vídeos de Padre Marcos Sandrini e Irmã Ivanette Duncan de Miranda estão disponíveis, na íntegra, no canal YouTube do Centro Salesiano de Formação. Seguem os links:
“A atualidade do carisma de Dom Bosco –. Disponível em:
Parte 1: https://www.youtube.com/watch?v=V8kP3M2Lwb4&feature=youtu.be
Parte 2: https://www.youtube.com/watch?v=wUrhsVU3Ejk&feature=youtu.be
Parte 3: https://www.youtube.com/watch?v=daQd-4rzSoQ&feature=youtu.be
Parte 4: https://www.youtube.com/watch?v=XPeSO0RB3_o&feature=youtu.be
“Pedagogia do amor”. Disponível em: goo.gl/A0uQzQ
A razão, a religião e a “amorevolezza” são os pilares do Sistema Preventivo. Mas ele tem outras características muito importantes, que serão abordadas na próxima aula.
Atividade
Nesta aula, foram apresentadas algumas matérias jornalísticas para exemplificar os elementos de sustentação do Sistema Preventivo de Dom Bosco.
Pesquise, no site ou em outros canais de comunicação da instituição em que você trabalha, notícias e matérias jornalísticas que, em sua opinião, sejam exemplos da razão, da religião e da “amorevolezza” na prática educativa salesiana. Analise as matérias e descreva os elementos do Sistema Preventivo presentes em cada uma.