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Ao longo desta Formação em Salesianidade para Educadores Iniciantes, aprofundamos algumas características do Sistema Preventivo de Dom Bosco, uma proposta educativa que foi elaborada no final do século XIX. O mundo mudou muito desde então! Mudaram as relações sociais e políticas, os anseios e as necessidades da juventude (ou das juventudes, no plural, como usamos atualmente), as atribuições do educador, até mesmo as estruturas da família, da escola e da Igreja. Sendo assim, é totalmente inviável tomar o Sistema Preventivo na íntegra, tal como Dom Bosco o concebeu, e simplesmente “encaixá-lo” na realidade educativa atual.
Conforme destacou o padre Pascual Chávez Villanueva, então Reitor-mor dos Salesianos, ao introduzir o tema da pedagogia de Dom Bosco como um dos pontos de estudo em preparação ao bicentenário de seu nascimento:
De um lado, é certamente necessário o estudo profundo da Pedagogia Salesiana, a fim de atualizá-la segundo a sensibilidade e as exigências do nosso tempo. Hoje, os contextos sociais, econômicos, culturais, políticos, religiosos, nos quais vivemos, a vocação e realizamos a missão salesiana, estão profundamente alterados. De outro lado, para a fidelidade carismática ao nosso Pai, é igualmente necessário fazer nossos o conteúdo e o método da sua oferta educativa e pastoral. No contexto da sociedade de hoje, somos chamados a sermos santos educadores como ele, entregando a nossa vida como ele, trabalhando com e pelos jovens. (CHAVEZ, Pascual, Estreia 2013 – Como Dom Bosco educador, ofereçamos aos jovens o Evangelho da alegria mediante a pedagogia da bondade, p. 6).
A ideia primordial do Sistema Preventivo (prevenção-educação no lugar de repressão) e seus conceitos básicos continuam extremamente atuais. Mais ainda: podem dar respostas concretas e efetivas para muitos dos problemas pelos quais os jovens passam hoje.
Esta aula é dedicada a refletir sobre a atualidade do Sistema Preventivo de Dom Bosco e sobre como ele pode ser aplicado de maneira que se adapte ao “hoje” sem perder sua essência. Para embasar essa reflexão, será utilizado principalmente o livro O Sistema Preventivo de Dom Bosco, hoje, de Carlo Nanni, obra que já foi citada especialmente na aula 4, que abordou o tripé razão, religião e amorevolezza. Outros textos e vídeos produzidos pela Congregação Salesiana em preparação ao Bicentenário de Nascimento de Dom Bosco (16 de agosto de 2014) serão usados também, porém a referência que norteia a estrutura desta oitava aula é o estudo feito por Nanni.
8.2 Uma opção corajosa
É Carlo Nanni quem afirma a necessidade de uma atualização constante como algo que já faz parte do pensamento de Dom Bosco:
Na sua quase cinquentenária obra de educador, [Dom Bosco] sempre procurou estar atento às necessidades do momento histórico e oferecer uma resposta válida e eficaz. O conselho dado aos seus colaboradores em 1883 (“precisamos conhecer os tempos e adaptar-nos a eles”) foi para ele um princípio constante de ação. Também para os salesianos tornou-se tradição afirmar: “com Dom Bosco e com os tempos” (ou, na versão originária do padre Bertello, de 1910, “com os tempos e com Dom Bosco”). (NANNI, Carlo. O Sistema Preventivo de Dom Bosco, hoje, p. 14)
Para essa atualização do Sistema Preventivo, entretanto, é necessário manter-se no mesmo “campo” escolhido por Dom Bosco, ou seja, na mesma perspectiva básica: o Sistema Preventivo de Dom Bosco é essencialmente positivo, otimista e propositivo.
O sistema preventivo aposta todas as suas fichas no positivo, nos recursos e nas potencialidades de vida e de bem que cada um de nós possui como dote nativo, como dom recebido da vida familiar, do contexto social e eclesial a que pertencemos. Já acenamos a isto. Dom Bosco declarava que “no jovem, mesmo o mais transviado, há sempre um ponto acessível ao bem”. (NANNI, Carlo. O Sistema Preventivo de Dom Bosco, hoje, p. 22).
Esse “ponto acessível ao bem” é o ponto de apoio para todo o sistema, cujo objetivo é estimular o jovem a fazer o bem, a se realizar nas ações positivas e a fazer do mundo um lugar melhor, para si e para os outros.
Colégio São Gabriel, escola administrada pelas Filhas de Maria Auxiliadora
Estar no “campo” de Dom Bosco significa fazer uma opção corajosa pelo bem dos jovens. A atualização do Sistema Preventivo vai além da reflexão intelectual. É preciso incorporar sua essência e utilizá-lo de maneira adequada “aos tempos, aos lugares, às culturas, às situações concretas”. Isso requer esforço, dedicação e comprometimento por parte do educador.
É preciso sonhá-lo, projetá-lo, concretizá-lo com sentido de medida e de limite (porque ninguém é perfeito e porque “o ótimo” pode resultar “inimigo do bom”). Requer reflexão, preparação, competência, ascese, sentido comunitário, discussão, recusa do próprio narcisismo para buscar o objetivo, a finalidade que se define para todos como horizonte de valor, na consciência de que as coisas que valem, custam... e valem a pena! (NANNI, Carlo. O Sistema Preventivo de Dom Bosco, hoje, p. 24).
O lema adotado por Dom Bosco em sua vida religiosa, “Da mihi animas, cetera tolle” (dai-me almas e levai o resto), expressa essa espiritualidade voltada para a vida, que projeta um futuro melhor e o percurso para alcançá-lo por meio da educação.
Pausa para o vídeo...
Na primeira parte da palestra “Espiritualidade em tempos de travessia”, o padre Marcos Sandrini explica o que é espiritualidade e como ela se manifesta na educação salesiana. Assista a um trecho desse vídeo.
8.3 Lugares e “não-lugares” educacionais
Carlo Nanni questiona diretamente o que significa educar com “razão” e “racionalmente” na era da internet e em uma sociedade na qual o individual e o material superam o bem comum e a espiritualidade. “A sede de sucesso e a aspiração à autorrealização pessoal individual correm o risco de obscurecer qualquer empenho de responsabilidade pelos outros” (p. 28), considera ele. Além disso, a informação e mesmo a formação dos jovens passam em grande medida pelos “não-lugares”, ou seja, está fora das estruturas tradicionais, como a família, a escola e a Igreja. O ambiente de relacionamento juvenil e de aprendizado está, muitas vezes, nos bares e baladas, nos meios de comunicação (internet e televisão, principalmente), nas redes sociais...
O fato é que os meios de comunicação social e a nova mídia (televisão e Internet em primeiro lugar) exercem elevado influxo sobre as personalidades em formação, como também sobre os adultos. Estimulam novos modos de aprendizagem, que se verificam mais na informalidade do que na formalidade; mais segundo lógicas informáticas do que racionais; mais por imagens do que por conceitos, selecionando o que parece mais útil e prático do que o que é realmente verdadeiro, bom, justo e belo em si e por si. (NANNI, Carlo. O Sistema Preventivo de Dom Bosco, hoje, p. 28).
Esses “não-lugares” tornam-se verdadeiras escolas paralelas. Assim como os primeiros salesianos faziam do pátio das escolas e oratórios um ambiente privilegiado para educar, hoje, o educador salesiano precisa estar inserido e atuante nos “novos pátios” educacionais, nesses “não-lugares”, formados por redes sociais e grupos virtuais. Cabe também ao educador fazer a ponte entre esses novos pátios e as instituições educativas, como escolas e obras sociais, orientando os jovens para a reflexão e o senso crítico. As tecnologias digitais devem ser vistas como aliadas, como um recurso educativo poderoso e que precisa ser usado, e não como um problema.
No final de 2016, uma matéria do Boletim Salesiano entrevistou alguns educadores salesianos, de escolas e obras sociais, sobre como eles viam o Sistema Preventivo de Dom Bosco na atualidade (“Educar é obra do coração”. Boletim Salesiano, novembro de 2016, p. 4-7). O uso de novas tecnologias em benefício da educação foi um dos temas que apareceu com frequência nos depoimentos. Como nos trechos selecionados a seguir.
Educar é obra do coração
Terça, 08 Novembro 2016
Escrito por Camila Santos
Professora Cristina França Pinto – Coordenadora Geral do
Colégio Salesiano Dom Bosco (Paralela) – Salvador - BA
“Educação é coisa do coração”. Essa frase de Dom Bosco, muito conhecida entre todos os que partilham do carisma salesiano, resume bem a vocação de todos os educadores salesianos. São pessoas que abraçaram o legado de Dom Bosco e ainda hoje buscam formar “bons cristãos e honestos cidadãos”, seja nas salas de aula, nos pátios salesianos ou nos centros de formação profissional. Mas, há mais de 150 anos da criação do Sistema Preventivo de Dom Bosco, quais são os principais desafios dos profissionais da educação de hoje? Como eles educam em um mundo onde os processos de ensino e aprendizagem sofrem transformações constantes em decorrência das tecnologias? O que pensam e sentem essas pessoas que não escolheram, mas sim foram escolhidas pela profissão de professor?
Para Cristina França Pinto, coordenadora geral do Colégio Salesiano Dom Bosco (Paralela), em Salvador, BA, o professor da atualidade tem que estar preparado para motivar. “Diante desse momento, em que a sociedade vive em constantes transformações, precisamos diariamente nos preparar para motivar nossos jovens, conquistar o coração de cada um deles. Temos que estar atentos a tudo, atualizados sempre, pois cada dia mais os nossos alunos estão dominando as tecnologias e sofrendo pressões sociais, políticas e econômicas”, afirma a coordenadora. Cristina atua na área de educação há mais de 30 anos, sendo 15 deles na escola salesiana.
[...]
Para o educador social do Centro Juvenil de Tocantis-Palmas, Paulo Roberto de Oliveira, quando uma pessoa se torna um educador salesiano “ela passa a ter uma nova visão no que diz respeito à educação”. Paulo já foi um educando da instituição e estagiário na Fundação Cultural de Palmas, projeto integrado ao Centro Juvenil. Atualmente, ele é responsável pelos projetos “Bom de bola, bom na escola”, que agrega educandos de 7 a 18 anos, e pelo curso de inclusão digital “Saleconect”, voltados para jovens de 14 a 18 anos, ambos oferecidos no centro juvenil, no contraturno escolar. Para ele, um dos principais desafios do educador social é conhecer os seus educandos. “Um educador social tem de conhecer os seus educandos e, acima de tudo, buscar entendê-los, pois todos vêm de uma realidade não muito fácil. O educador social acaba se envolvendo na história de vida de cada educando e o maior desafio é amá-los assim”, considera.
[...]
O professor Antônio de Jesus Santana é formado em Filosofia, pós-graduado em Ensino Religioso Escolar e Mestre em Educação Sociocomunitária. Dedicou mais metade de sua vida ao magistério - 33 anos, sendo 25 vividos na Escola Salesiana São José de Campinas, SP. As raízes da escolha da profissão de professor se fixaram desde os tempos de infância. Hoje, o professor Santana ministra aulas na área de Filosofia para todas as classes do Ensino Fundamental II, para os cursos técnicos do CPDB (Centro Profissional Dom Bosco) e da ETEC (Escola Técnica de Campinas) e para a graduação do Centro Universitário Salesiano - Unisal.
“A sala de aula é um espaço de desafios constantes, tanto para os professores quanto para os alunos. Dou aulas para uma diversidade expressiva de alunos, tanto de idade quanto cultural. Dentre outros, creio que os principais desafios de uma sala de aula estão em torno do desinteresse, da desmotivação, da distração, da indisciplina e do individualismo. Outro fator que se impõe é o crescente acesso e domínio dos alunos às múltiplas tecnologias, com suas vantagens e desvantagens para o processo da aprendizagem”, avalia o professor.
O professor Santana afirma que o Sistema Preventivo de Dom Bosco sempre esteve presente em sua vida, mesmo nas escolas e espaços não salesianos em que atuou. “Minha opinião sobre o Sistema Preventivo é a de que ele se torna o facilitador dos processos de ensino e aprendizagem. A confiança, a proximidade, o envolvimento, o pertencimento são notórios quando educando e educador entendem a linguagem da corresponsabilidade no aprendizado, o valor da convivência nas relações múltiplas e o crescimento nas experiências culturais e espirituais”, completa.
(“Educar é obra do coração”. Boletim Salesiano, novembro de 2016, p. 4-7. Disponível em: http://www.boletimsalesiano.org.br/index.php/educacao/item/7344-educar-e-obra-do-coracao Acesso em: 2 jun 2017).
Conforme apontado pelos três educadores, investir no protagonismo juvenil, na capacidade do jovem ser responsável pelo próprio crescimento e pelo desenvolvimento de outros jovens, é outra característica do Sistema Preventivo que permanece muito atual.
8.4 Educadores “em saída”
Também permanece atual, e é retomada atualmente pela Igreja e pelos educadores católicos, a postura de colocar-se “em saída”, ou seja, como educadores dispostos a ir onde estão os jovens, nos ambientes e situações em que eles mais precisam de apoio e orientação. Como fizeram na prática Dom Bosco e Madre Mazzarello em seu tempo, atendendo os meninos e as meninas que não tinham inicialmente um espaço físico para o estudo, a profissionalização, a oração, ou mesmo para o lazer e o divertimento.
Carlo Nanni destaca ainda a defesa dos direitos humanos e da dignidade da pessoa, especialmente das crianças, dos adolescentes e dos jovens, como tarefa fundamental do Sistema Preventivo atualmente.
Em todo caso e sempre, a razão, a bondade e a própria religião, hoje possuem um seu “lugar-não lugar” de aplicação: os direitos humanos, chamados por alguém de “Bíblia leiga”, enquanto indicam o complexo dos valores compartilháveis por todos, de qualquer continente, cultura, religião e nação. Promover educativamente os direitos humanos, em particular os dos menores, torna-se uma maneira concreta de realizar o carisma educativo do sistema preventivo, que quer promover uma cultura da vida e a educação integral dos jovens. É fazer prevenção sob qualquer céu, lugar ou “não lugar”. (NANNI, Carlo. O Sistema Preventivo de Dom Bosco, hoje, p. 30).
É importante compreender que a preventividade, no ambiente educativo salesiano, é realmente um sistema, no qual razão, religião e “amorevolezza” se completam. Esses três elementos do Sistema Preventivo, sobre o qual já tratamos neste curso, tem suas características resumidas em uma palestra do padre Wolfgang Gruen:
Pausa para o vídeo...
Assista agora a um trecho do vídeo “Nossa tarefa educativa”, com o padre Wolfgang Gruen. A palestra é sobre a Pastoral nas escolas salesianas, mas a parte final trata mais especificamente sobre o Sistema Preventivo de Dom Bosco nos dias atuais.
https://www.youtube.com/watch?v=Jy9i81Tofv8&feature=youtu.be
Assim, o tripé fundamental do Sistema Preventivo de Dom Bosco – razão, religião e amor educativo – é mais que atual: é universal, possível de ser aplicado em situações educativas formais ou não formais, oferecendo uma resposta concreta às questões mais prementes para a educação do século XXI.
8.5 Atender ao clamor da juventude
Dom Bosco e Madre Mazzarello fizeram uma opção radical pelos jovens e, entre eles, pelos mais pobres e desassistidos. A Turim que Dom Bosco conheceu ao entrar no Colégio Eclesiástico era marcada pela pobreza, pelas doenças e epidemias, pela violência e pelo crime. Nessa época, teve como guia o padre José Cafasso (1811-1860), homem dedicado ao trabalho com os jovens abandonados da cidade. Ele levava os padres novos para visitar as prisões e dar catequese a esses jovens. Foi assim que Dom Bosco teve seu primeiro contato com aqueles que seriam o objeto principal de sua ação educativa. Nas Memórias do Oratório, Dom Bosco testemunha:
Ver turmas de jovens, de 12 a 18 anos, todos eles sãos, robustos, e de vivo engenho, mas sem nada fazer, picados pelos insetos. À mingua de pão espiritual e temporal, foi algo que me horrorizou. Qual não foi, porém, minha admiração e surpresa quando percebi que muitos deles saiam com firme propósito de vida melhor e, não obstante, voltavam logo à prisão, da qual haviam saído poucos dias antes. (SÃO JOÃO BOSCO. Memórias do Oratório de São Francisco de Sales. São Paulo: Salesiana, 3a ed., 2005, p. 121. APUD Mendonça Filho: Formação de educadores salesianos II, p. 54-55).
O oratório, da maneira concebida por Dom Bosco, foi a maneira encontrada por ele para atender os meninos mais carentes daquele tempo: os abandonados, os que estavam nas ruas e nas prisões, os que tinham fome, os que vagavam sem orientação. Também Maria Mazzarello, a seu modo, tomou a tarefa de atender as meninas mais vulneráveis e oferecer a elas um espaço educativo, no qual poderiam desenvolver suas capacidades e dons.
Hoje, a juventude continua clamando por auxílio. No Brasil, os jovens são as maiores vítimas da violência. Há um índice altíssimo de mortes violentas (homicídios, suicídios e mortes por acidente automobilístico) entre os jovens de 15 a 29 anos. Os jovens muitas vezes precisam escolher entre trabalhar ou estudar. São os que mais sofrem com o desemprego. Para as mulheres, a gravidez precoce é outro fator que retira as meninas da escola. Já em 2007, a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) apontava para a imensa desigualdade de oportunidades e para os graves problemas enfrentados pela juventude no país.
É uma desigualdade escandalosa cujas matrizes estão na disparidade de renda; o acesso restrito à educação de qualidade e frágeis condições para permanência nos sistemas escolares; o desemprego e a inserção no mercado de trabalho; a falta de qualificação para o mundo do trabalho; o envolvimento com drogas; a banalização da sexualidade; a gravidez na adolescência, a AIDS; a violência no campo e na cidade; a intensa migração; as mortes por causas externas (homicídio, acidentes de trânsito e suicídio); no limitado acesso às atividades esportivas, lúdicas, culturais e a exclusão digital (CNBB, Evangelização da juventude, desafios e perspectivas pastorais. Documento da CNBB, 85, São Paulo: Paulinas, 2a ed., 2007, no 10. APUD: Mendonça Filho: Formação de educadores salesianos II, p. 59-60).
O educador salesiano não pode se furtar ao dever de agir para alterar essa realidade. A educação salesiana tem uma postura ativa, propositiva, de inserção social para o bem da juventude. Esse aspecto do Sistema Preventivo de Dom Bosco, de defesa dos direitos das crianças, dos adolescentes e dos jovens, deve estar em evidência, tanto nas obras sociais como nas escolas de educação formal, tanto nos cursos profissionalizantes como nas faculdades, tanto nas paróquias como nas comunidades inseridas.
Precisamos caminhar, portanto, na direção de uma confirmação atualizada da “opção social, política e educativa” de Dom Bosco. Isso não significa promover um ativismo ideológico, ligado a determinadas opções político-partidárias, mas formar para a sensibilidade social e política que sempre leve a investir a própria vida como missão pelo bem da comunidade social, com referência constante aos inalienáveis valores humanos e cristãos. Trata-se, pois, de agir neste setor de acordo com uma atuação prática mais coerente. Dito em outros termos, a reconsideração da qualidade social da educação [...] deveria incentivar a criação de experiências explícitas de empenho social no sentido mais amplo (CHAVEZ, Pascual, Estreia 2013 – Como Dom Bosco educador, ofereçamos aos jovens o Evangelho da alegria mediante a pedagogia da bondade, p. 16-17).
O serviço aos jovens mais carentes também une os educadores salesianos ao redor do mundo. É uma característica da educação salesiana, não só aqui no Brasil, em todas as suas regiões, mas também nas presenças educativas da Família Salesiana em outros países.
O mesmo Sistema Preventivo que no Brasil se expressa, por exemplo, na participação salesiana para a formulação e a aplicação do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) <http://criancaeconsumo.org.br/normas-em-vigor/lei-no-8-06990-estatuto-da-crianca-e-do-adolescente-eca/>, é o que motiva os educadores salesianos e as educadoras salesianas que permanecem na Síria para garantir escola e lazer aos jovens em meio à guerra; que abrem casas de acolhida nos Estados Unidos e em diversos países da Europa para receber os migrantes menores de idade; que fomentam a solidariedade e a proteção às crianças em países africanos; que lutam contra a utilização das crianças-soldado em regiões da Ásia e da América do Sul.
Pausa para o vídeo...
Agora faça uma pausa breve para assistir a este trecho do vídeo “A atualidade do carisma de Dom Bosco – Parte 3”, no qual a irmã Ivanette Duncan de Miranda explica que todo educador salesiano é chamado à cidadania e a uma postura social e política comprometida.
https://www.youtube.com/watch?v=daQd-4rzSoQ&feature=youtu.be
8.6 Os educadores segundo o sistema preventivo
Na Aula 5, foram abordadas algumas “expressões do carisma salesiano na comunidade educativa pastoral”: o que significa ter a instituição salesiana como uma “casa que acolhe”, a pedagogia da presença, a importância dos esportes, da arte e da cultura na proposta educativa salesiana e a consciência social. Seria redundante tratar novamente os mesmos temas, mas vale conferir como o autor Carlo Nanni resume a atualidade desses preceitos do Sistema Preventivo:
Para o sistema preventivo, porém, é prioritário que os jovens vejam os educadores, não somente ocupados em programar e administrar, numa palavra, em “fazer”, mas que possam senti-los capazes de “perder tempo” por eles e com eles, e que os vejam emergir entre aqueles que têm sede de verdade e fome de justiça.
Por sua vez, a “popularidade” da educação preventiva continuará a ser um desafio, se souber ser critério para criar cultura e para gerir estruturas educativas de forma participativa e corresponsável, fazendo com que os jovens se sintam verdadeiros protagonistas, sujeitos ativos, primeiros responsáveis da própria aprendizagem e do próprio crescimento. Isto se deve verificar fazendo com que todos considerem a escola, o centro de formação profissional, o oratório, o centro juvenil, o grupo, a associação, o time... como “a própria casa”. (NANNI, Carlo. O Sistema Preventivo de Dom Bosco, hoje, p. 82).
Ressalta-se assim o papel do educador para que o Sistema Preventivo funcione. No exemplo de Dom Bosco educador, mais uma vez, aparece como fundamental a postura otimista. Não se trata de acreditar que tudo é bom e de fechar os olhos para os problemas e os desafios. Ao contrário, ser otimista significa enfrentar os desafios com esperança, acreditando no poder da juventude e na própria força da educação como motor para as mudanças necessárias.
Pausa para o vídeo...
Assista a um trecho do vídeo “Que possibilidade a educação salesiana apresenta?”, gravado em 2015, no qual o diretor-executivo da RSB-Social, Pe. Agnaldo Soares de Lima, SDB, e a diretora-executiva da RSB-Escolas, Ir. Adair Sberga, FMA, conversam sobre quem é o educador salesiano na atualidade.
Segundo Nanni (p. 113), a atualização do Sistema Preventivo requer do educador salesiano três atitudes:
1) Como Dom Bosco, voltar a fazer da educação uma opção de vida.
2) Voltar a ler, em chave educativa, a condição juvenil e o contexto sociocultural.
3) Repensar, de forma “preventiva”, as formas e os âmbitos da ação educativa.
Na próxima e última aula deste curso será abordado justamente sobre como o educador salesiano pode “educar-se” para essas três atitudes, organizando um projeto de vida que o ajude a efetivar sua missão junto aos jovens, como parte de um processo de realização pessoal e social.
Ampliando os Saberes
Nos dias 2 a 6 de janeiro de 2009, foi realizado em Roma, na Itália, o Congresso Internacional sobre Sistema Preventivo e Direitos Humanos, do qual participaram salesianos de todas as partes do mundo. A partir das reflexões realizadas neste congresso, o padre Orestes Carlinhos Fistarol, SDB, produziu o livro Sistema Preventivo e Direitos Humanos. A obra permite aprofundar a compreensão sobre o Sistema Preventivo de Dom Bosco e está disponível para download gratuito no site da EDB Brasil: http://www.edbbrasil.org.br/literatura-salesiana/.
O Sistema Preventivo de Dom Bosco, hoje, de Carlo Nanni, livro que serviu como base para a elaboração desta aula, também pode ser baixado gratuitamente, na íntegra, no site da EDB Brasil, no link: http://edbbrasil.org.br/literatura-salesiana/files/O_Sist_Prev_Hoje_Baixa.pdf
ATIVIDADE A biografia é um gênero textual muito utilizado para ressaltar valores – sejam eles positivos ou negativos. Por meio da história do outro, podemos refletir sobre nossos ideais e nossas próprias escolhas de vida.
Pense em um personagem histórico ou religioso que você considere como exemplo positivo de vida. Aprofunde a pesquisa sobre essa pessoa e produza uma breve biografia, destacando os aspectos que considera mais relevantes.