clique abaixo para navegar
Nas aulas anteriores, foram apresentadas algumas das características principais do Sistema Preventivo de Dom Bosco, ou do “modo salesiano” de educar. São aspectos que diferenciam a proposta educativa salesiana, que a tornam única, e por isso precisam estar impregnadas na prática cotidiana dos educadores.
6.1 Introdução
Nesta aula, o tema é igualmente imprescindível para compreender em que consiste e o que diferencia a educação salesiana. Os fundadores, Dom Bosco e Madre Mazzarello, dedicaram toda a sua vida à educação da juventude por entender que esta era a missão que Deus lhes reservara. João Bosco e Maria Domingas Mazzarello responderam a um chamado, a uma vocação clara, e colocaram-se inteiramente a serviço dessa missão.
No dia a dia de sua prática pedagógica, seja em Valdocco, em Mornese, ou em todos os lugares por onde se propagou o carisma salesiano, os fundadores e aqueles que os seguiram sustentaram toda a sua ação em uma espiritualidade profunda. Não há como compreender ou aplicar o Sistema Preventivo de Dom Bosco sem a religião, ou religiosidade: esta é uma das bases do sistema, tão importante quanto a razão e a bondade.
O ambiente salesiano é qualificado por uma espiritualidade que permeia a vida de jovens e adultos e se caracteriza pela fé em Deus, põe no centro o mistério pascal de Jesus Cristo, encarnado, morto e ressuscitado, e a presença ativa de Maria SS.
Crê na força transformadora dos Sacramentos, colunas sobre as quais se funda o edifício espiritual da pessoa cristã madura. Deságua numa fé empenhada na construção da civilização do amor e se traduz num cotidiano vivido com otimismo e alegria, na confiança de que Deus age continuamente na história e nos interpela - como pessoas e como comunidades - a sermos sinais da sua presença (INSTITUTO FILHAS DE MARIA AUXILIADORA. Para que tenham vida e vida em abundância p. 58).
Novamente, cabe ressaltar que não se trata de fazer proselitismo – é possível haver catequese numa obra salesiana. Contudo proselitismo não! - É a Antropologia Cristã que fundamenta nosso estilo de educação e a identidade da obra salesiana é confessional. Contudo, aberta ao diálogo ecumênico e inter-religioso.
6.2 O amor de Deus
A Família Salesiana de Dom Bosco tem como patrono e inspirador São Francisco de Sales, doutor da Igreja. O nome inicial da congregação religiosa masculina, fundada por Dom Bosco, era Sociedade de São Francisco de Sales. Francisco nasceu em 1567, em uma família nobre. Estudou retórica e filosofia com os padres da Companhia de Jesus (Jesuítas) e doutorou-se em Direito na Universidade de Pádua. Tornou-se sacerdote, contrariando a vontade da família, e em 1602 foi sagrado bispo de Genebra. Foi nesta diocese, onde permaneceu até sua morte, que se tornou famoso pelas pregações e pela forma incansável com que buscava reunir os fiéis em torno da Igreja – e por isso é também patrono dos jornalistas e dos escritores. Algumas das características de São Francisco de Sales ressaltadas em suas biografias são a caridade, a paciência e a mansidão.
São Francisco de Sales foi a fonte inspiradora para uma espiritualidade que afirma o amor de Deus pelos seus filhos e a necessidade de corresponder a esse amor incondicional, amando também uns aos outros. Uma espiritualidade do otimismo pela Boa Nova e da alegria em seguir os passos de Jesus.
Deus é Amor. Tem o desejo de Se “comunicar”, de dar e de Se dar. Este é o verbo usado ao longo de todo o Tratado (Tratado do Amor de Deus) para mostrar como Deus entra em contato com a pessoa humana e esta com Deus. Desta “comunicação”, Deus cria o mundo, os seres e finalmente a sua última “obra”: o homem e a mulher. Baseando-se no salmo que diz “Fizeste-o pouco menos que um deus”, Francisco escreve: “o homem é a perfeição do universo”. “Tendo criado o homem à Sua imagem e semelhança, Deus quer que tudo nele seja orientado pelo amor e para o amor, como acontece em Si próprio”. Como diz Ravier, “um amor que comete loucuras para se fazer amar e um amor que é livre em relação aos seus amores. Que desafio! O jogo começa para todo o homem logo que nasce, e prolonga-se por toda a eternidade”. (ODELLI, Tarcizio. “Um grande jogo de amor”: Boletim Salesiano, julho de 2016, p. 24-25).
O princípio de um Deus amoroso está presente também na grande devoção de Dom Bosco ao Sagrado Coração de Jesus. “Aqui se adquire o verdadeiro calor – disse certa vez –, quero dizer: o amor de Deus; não só para si, mas para difundi-lo, compartilhando-o com as almas” (“Dom Bosco e a devoção ao Sagrado Coração de Jesus”). Na pedagogia salesiana, buscar o encontro com Jesus significa tornar o nosso coração semelhante ao dEle. Significa viver essa experiência transformadora do amor de Deus para podermos também nós, educadores salesianos, transmitir esperança e carinho para as crianças, os adolescentes e os jovens.
6.3 Maria, Mãe educadora
No 24º dia de maio, a Família Salesiana celebra Nossa Senhora sob o título de Auxiliadora dos Cristãos. Foi o próprio Dom Bosco quem indicou essa devoção. Em 1862, ele explicou a João Cagliero o motivo da escolha: “Maria quer que a veneremos sob o título de ‘Maria Auxiliadora dos Cristãos’. Os tempos correm difíceis e temos necessidade de que a Virgem Santa nos ajude a defender a fé cristã”. Não foi Dom Bosco, entretanto, quem iniciou o culto a Nossa Senhora Auxiliadora, como explica o padre Nilson, em entrevista a Zenit:
A celebração litúrgica a Nossa Senhora Auxiliadora foi instituída pelo Papa Pio VII, num período difícil da história da Igreja. Pio VII, mantido em prisão durante cinco anos, implorou o auxílio de Nossa Senhora e convidou os cristãos a dirigir-se a Ela. Contra toda a expectativa, voltou livre para Roma no dia 24 de maio de 1814. No entanto, tal devoção recebeu grande impulso por meio de Dom Bosco, que associou o título de Auxiliadora dos Cristãos ao de Maria Mãe da Igreja a fim de indicar o seu maternal auxílio nas dificuldades da vida pessoal, da Igreja e de toda a humanidade. (SIQUEIRA, Thácio. “”Nossa Senhora Auxiliadora e os Salesianos”).

Dom Bosco é quem melhor resume a influência de Nossa Senhora Auxiliadora para a construção da obra salesiana: “Foi ela quem tudo fez!”. Maria é figura de destaque em toda a sua vida. A fé de Dom Bosco era Cristocêntrica. No chamado sonho dos 9 anos, considerado o primeiro sonho profético da sua missão, é Ela quem, ao lado do seu filho Jesus, mostra a João Bosco o caminho a seguir na salvação da juventude: não com pancadas, mas sim com amor e mansidão, com amor, ele poderá ganhar o coração dos jovens. Este é o centro do Sistema Preventivo.
Já no sonho dos nove anos, Jesus o confia à mestra e esta, a Virgem Maria, mostrando-lhe o campo de seu trabalho lhe disse: “Torna-te humilde, forte e robusto”. Grande é a mensagem de espiritualidade, o roteiro pedagógico embrionário no relato do sonho dos nove anos. As disposições necessárias indicadas para seguir o chamado de Deus, a devoção a Nossa Senhora, a indicação de seu futuro campo de trabalho e a maneira de se relacionar com os jovens, tudo estava contido nesse sonho (FERREIRA, Antonio da Silva. “A Nossa Senhora de Dom Bosco”. Boletim Salesiano, 2 de agosto de 2012. Disponível em: http://www.boletimsalesiano.org.br/index.php/salesianidade/item/210-a-nossa-senhora-da-dom-bosco).
Pausa para o vídeo...
Maria: presença educadora é um diálogo, uma reflexão feita pelo padre Nivaldo Luiz Pessinatti, SDB, e pela irmã Maria Helena Moreira, FMA, sobre Maria Auxiliadora, seu significado para Dom Bosco e para os educadores salesianos. Assista a um trecho do Diálogo de Formação “Maria: presença educadora”.
Dom Bosco acreditava que cada jovem que entrava em uma casa salesiana era trazido pelas mãos de Nossa Senhora. Quando pediu a sua mãe, Margarida, que fosse ajudá-lo no Oratório de Valdocco, ela percebeu que faltava tudo, que viviam em extrema pobreza. Dom Bosco apontou uma imagem de Nossa Senhora: toda dificuldade no caminho poderia ser superada com o auxílio de Maria.
Mãe, Imaculada, Auxiliadora, é esta a Nossa Senhora que Dom Bosco coloca no vértice de sua pedagogia e da sua ação sacerdotal, apostólica e missionária. É ela quem sustenta o clima espiritual mariano que se vive no Oratório – e também nas outras obras – e se exprime nas formas mais variadas e sinceras de uma genuína piedade popular.
O exemplo partia do santo, que sempre, especialmente nas encruzilhadas mais decisivas de sua vida, se voltava para ela com a familiaridade e a confiança próprias de um filho para com a mãe. (FERREIRA, Antonio da Silva. “A Nossa Senhora de Dom Bosco”. Boletim Salesiano, 2 de agosto de 2012).
Foi assim que, ao fundar juntamente com Madre Maria Mazzarello o ramo religioso feminino da Família Salesiana, batizou-o de Instituto das Filhas de Maria Auxiliadora (FMA). Foi também o próprio Dom Bosco quem instituiu a Associação de Maria Auxiliadora (ADMA), para difundir a devoção a Nossa Senhora sob o título de Auxiliadora. A presença de Maria Auxiliadora, tão forte para Dom Bosco e para todos que seguiram inicialmente o seu carisma, continua hoje guiando os passos da Família Salesiana no Brasil e no Mundo.
6.4 A centralidade de Jesus Bom Pastor e do encontro com Jesus Ressuscitado
Dom Bosco, assim como todos os santos fundadores de congregações e famílias religiosas, viveu a vida cristã sob o ponto de vista de seu carisma – no caso, a evangelização e a educação da juventude. Também é sob esse prisma que ele busca o seguimento de Jesus e o indica como modelo para os educadores salesianos.
A “caridade salesiana” é caridade pastoral, porque busca a salvação das almas, e é caridade educativa, porque encontra na educação o recurso que permite ajudar os jovens a desenvolverem as suas energias de bem; dessa forma, os jovens podem crescer como honestos cidadãos, bons cristãos e futuros habitantes do céu (CHAVEZ, Pascual, “Estreia 2014 - Apropriemo-nos da experiência espiritual de Dom Bosco para caminhar na santidade segundo a nossa vocação específica”).

Nesse sentido, assume lugar central na proposta educativa salesiana a figura de Jesus como o Bom Pastor: aquele que vai buscar a ovelha perdida para dela cuidar, reconduzindo-a ao caminho da salvação.
É o espírito do Bom Pastor que vai ao encontro da ovelha – o jovem – nas periferias existenciais onde ele se encontra para entrar em comunhão com ele e seus sonhos. Neste sentido é sair de si para socorrer os caídos. Fazer levantar os encurvados, ressuscitar os mortos e expulsar os demônios que atentam contra os jovens de hoje (Mendonça Filho: Formação de educadores salesianos III, p. 55).
Essa compreensão é muito importante na pedagogia salesiana: o educador não espera que a criança, o adolescente ou o jovem venha até ele; é o educador salesiano quem faz o primeiro movimento, quem vai em busca do educando. É o educador quem gera interesse, quem busca envolver, quem pretende trazer o outro para si. Essa ação, ou melhor dizendo essa postura educativa, não se restringe à sala de aula ou à oficina pedagógica. O educador salesiano vai até o jovem onde ele está, incluindo os “novos pátios virtuais” das redes sociais, por exemplo.
Também resulta dessa compreensão sobre a centralidade do Bom Pastor o fato de que a proposta pedagógica salesiana não é seletiva.
Dom Bosco observa a juventude a partir de suas atitudes, no contato direto. Neles encontra o rosto de Jesus Cristo e se identifica com esta causa juvenil. Por eles faz uma opção: “Por vós estudo, por vós trabalho, por vós eu vivo e estou disposto a dar a minha vida”. (Mendonça Filho: Formação de educadores salesianos III, p. 55).
Da mesma maneira que o Bom Pastor, que pretende reunir suas ovelhas e guia-las para pastagens seguras, a educação salesiana vai além do ensino: ela é um meio de transformar a vida dos jovens. Trata-se de conhecer profundamente a vida do jovem, suas alegrias, tristezas e angústias, para poder ajudá-lo a traçar um projeto de vida. O educador, para a concepção salesiana, é aquele que guia, indica um caminho e ajuda o aluno a trilhá-lo; e não um mero “transmissor” de informações e conteúdos.
Outro aspecto muito forte da espiritualidade salesiana é a imagem de Jesus Ressuscitado. Ao contrário do que muitos pensam, a principal festa do cristianismo não é o Natal, e sim a Páscoa. Esta é a celebração da vitória de Cristo sobre a morte e de uma nova aliança com o povo de Deus. A “Boa Nova” é a de que Jesus está vivo, e isso é motivo de júbilo e renovação das esperanças em um futuro melhor.
A espiritualidade salesiana é pascal: é alegre, é cheia de entusiasmo pela vida, de esperança, de fé e de confiança. Conforme explica o padre Pascual Chávez, nono sucessor de Dom Bosco:
A tendência mais radical no coração do jovem é o desejo e a busca da felicidade. A alegria é a expressão mais nobre da felicidade e, com a festa e a esperança, é característica da espiritualidade salesiana. [...] Dom Bosco entendeu e fez com que seus jovens entendessem que trabalho e alegria caminham juntos, que santidade e alegria formam um binômio inseparável. Dom Bosco é o santo da alegria de viver. Seus jovens aprenderam muito bem essa lição de vida chegando a afirmar, com linguagem tipicamente oratoriana, que a “santidade consiste em estar muito alegres” (CHAVEZ, Pascual, “Estreia 2014).
O encontro com Jesus Ressuscitado resulta em uma educação apaixonada, entusiasmada pela vida – como ressalta o lema das escolas salesianas no Brasil.
A partir de uma visão integral da “Boa-Nova”, como evangelizadores educadores, nos comprometemos a oferecer aos jovens processos graduais, que respondam às suas aspirações e necessidades [...]. É um desafio que exige propostas integrais, a partir dos conteúdos e vivência da Espiritualidade Juvenil Salesiana: a amizade, a alegria, a cultura, a vida comunitária, a solidariedade e o serviço missionário, a catequese e a celebração da fé.
Somos também chamados a levar a “Boa notícia” aos ambientes não cristãos, plurirreligiosos e pluriculturais. Nesses ambientes apresentamos uma proposta enraizada nos valores do Evangelho, respeitando as pessoas, suas culturas e religião (Mendonça Filho: Formação de educadores salesianos II, p. 84-85).
Assim, nas casas salesianas, os jovens são incentivados a tecer relações de fraternidade e de amizade sinceras; a cumprir seus deveres de estudo com alegria; a admirar a beleza da Criação e defende-la; a festejar e compartilhar a alegria da vida...
6.5 “Dá-me almas e fique com todo o resto”
Dom Bosco e Madre Mazzarello compartilhavam uma espiritualidade ativa, ou seja, que se traduzia em obras concretas. Particularmente, em obras educacionais e voltadas para aqueles que mais necessitavam de atenção. Para ambos, e para os muitos que os seguiram, realizar essas ações era (e é) um gesto de amor desinteressado, com o objetivo de ajudar o próximo.
O amor representa o ponto de chegada mais elevado do amadurecimento de qualquer pessoa, cristão ou não. A ação educativa propõe-se a levar a pessoa a ser capaz de doar-se, ao amor de benevolência (CHAVEZ, Pascual, “Estreia 2014).
Assim, embora na proposta educativa salesiana exista a atitude concreta de atender aos que necessitam, essa ação é sempre voltada para algo que transcende a ajuda material.
O “lema” escolhido por Dom Bosco resume bem o que isso significa: “Da mihi animas, cetera tolle” (Dai-me almas, ficai com o resto). “As testemunhas da primeira hora e a reflexão sucessiva da Congregação levaram à convicção de que a expressão que resume a espiritualidade salesiana é justamente o ‘Da mihi animas, cetera tolle’”, explica o Reitor-mor emérito, padre Pascual Chávez.
Ainda segundo Chávez, a citação, retirada do livro do Gênesis (14,21), assume em Dom Bosco características próprias. Como religioso do século XIX, Dom Bosco entendia por “alma” a qualidade espiritual do homem, ou seja, o cerne da vida humana. As almas que ele buscava eram os próprios jovens a quem pretendia educar integralmente, como seres humanos completos. Já o “cetera tolle” refletia o desapego das coisas materiais.
A união dos dois significados, o bíblico e o dado por Dom Bosco, aproximado à nossa cultura indica escolhas muito concretas.
Primeiramente, a caridade pastoral leva em consideração a pessoa e dirige-se a toda a pessoa; interessa, antes e principalmente, a pessoa, para desenvolver os seus recursos. Dar “coisas” vem depois; prestar um serviço está em função do crescimento da consciência e do sentido da própria dignidade.
Além disso, a caridade, que contempla principalmente a pessoa, é guiada pela sua “visão”. A pessoa não vive somente de pão; tem necessidades imediatas, mas também aspirações infinitas (CHAVEZ, Pascual, “Estreia 2014).
A pedagogia salesiana é, portanto, uma pedagogia da alma: do desenvolvimento do “ser” e não do “ter”, da afirmação de valores humanos e cristãos, da preparação da criança, do adolescente e do jovem para a vida plena. No cotidiano das escolas, obras sociais e institutos salesianos, esse conceito de formação integral transparece em diversas ações. Entre elas, destaca-se a ênfase
Pausa para o vídeo...
A TV Integração, da Rede Globo, realizou em 2012 uma reportagem com o SALVO – grupo de voluntariado formado por alunos do Colégio Dom Bosco de Araxá, MG. Inspirados no trabalho de Patch Adams, os alunos salesianos se caracterizam de palhaços e levam aos pacientes de hospitais momentos de descontração. Veja a matéria com o grupo SALVO
Quase todas as casas salesianas têm algum projeto de voluntariado, seja incentivando os alunos a realizaram esse tipo de serviço em instituições sociais, seja recebendo o auxílio dos jovens voluntários. Esses projetos são chamados de “voluntariado educativo” porque vão muito além da ajuda material ou da prestação de serviços. Eles implicam em algo que favorece o desenvolvimento humano e social de todos os que participam dos projetos: os que recebem a ajuda, os jovens voluntários e os educadores que orientam esse processo nas duas pontas.
6.6 Questões para o dia a dia
Para concluir esta aula, é pertinente tratar de algumas questões específicas que fazem parte da realidade cotidiana das casas salesianas, como as festas e celebrações religiosas, e a Campanha da Fraternidade.
6.6.1 - Festas religiosas
As instituições salesianas são instituições católicas. Elas promovem festas e celebrações religiosas, não para fazer proselitismo, mas porque essas comemorações refletem aquilo que está na base de sua proposta educativa.
Nas escolas e obras sociais dirigidas pelos salesianos, são celebrados os santos fundadores: São João Bosco, em 16 de agosto, e Santa Maria Domingas Mazzarello, em 13 de maio. Esta é a maneira de reforçar, junto a todos que fazem parte da comunidade educativa, os valores, ensinamentos e exemplos de vida que resultaram na proposta educativa e pastoral salesiana. Pelo mesmo motivo também é celebrada Maria Auxiliadora, em 24 de maio.
Já, as festas católicas tradicionais, especialmente a Páscoa e o Natal, são comemoradas tendo como centro a figura de Jesus e os valores cristãos. Na Páscoa, como já visto anteriormente, é celebrada a ressurreição de Cristo, a Boa Nova, a vida, a alegria compartilhada. O Natal é a festa da esperança, da caridade, da solidariedade e do carinho. Do ponto de vista educacional, ambas são ocasiões para reforçar o significado do “ser” ao invés do “ter”; de dar mais do que receber.
6.6.2 Ensino Religioso
Um tema que diz respeito especificamente às escolas é o da diferença entre Ensino Religioso e Catequese. A Catequese trata diretamente da doutrina cristã, sob o ponto de vista da Igreja Católica. O seu foco é evangelizar no sentido de oferecer ao cristão os elementos necessários para fortalecer a sua fé e a sua pertença à comunidade católica. Já, o Ensino Religioso é uma disciplina curricular, uma área do conhecimento cujo foco é educar para o transcendente.
Conforme explica Antonio Boeing, em artigo escrito para a revista Informativa Educacional, da Associação Nacional de Educação Católica (ANEC), há vários documentos da Igreja Católica que tratam sobre as diferenças entre Ensino Religioso e Catequese. Esses documentos atestam a reflexão feita pela Igreja ao longo dos anos sobre o tema.
No caso dos documentos emitidos pela CNBB, fica mais claro o posicionamento da Igreja Católica de diferenciação entre o Ensino Religioso e a Catequese. O Ensino Religioso é considerado como parte integrante de uma área do conhecimento, e deve ser ministrado com respeito à diversidade cultural e religiosa do povo brasileiro e de acordo com a legislação nacional. Essa concepção vem se fortalecendo ao longo dos anos e está expressa em diversos documentos, entre os quais pode ser dado como exemplo o Documento da CNBB 47, “Educação, Igreja e sociedade” (Boeing, Antonio: “Educar e evangelizar: as diferenças entre Ensino Religioso e Catequese”).
Compreendido desta forma, o Ensino Religioso é uma disciplina tão importante para a escola como todas as outras. Por isso, deve ser ministrado com rigor pedagógico, fazer o diálogo interdisciplinar, e contribuir com a formação integral do aluno.
O professor não precisa – e não deve – esconder sua opção religiosa, assim como a escola católica enquanto instituição não pode em momento algum esquecer que é uma escola confessional. O que ressaltamos é que o Ensino Religioso escolar pode levar o aluno a compreender que os grandes problemas existenciais são comuns a todas as religiões e diferentes culturas. E pode ajudá-lo na busca de aprofundamento e conhecimento da mensagem cristã, em sua comunidade eclesial. Mas, para isso, é importante que o professor de Ensino Religioso tenha um profundo conhecimento da matéria e adote uma postura inclusiva e dialogante (Boeing, Antonio: “Educar e evangelizar: as diferenças entre Ensino Religioso e Catequese”).
É preciso ainda ressaltar que, enquanto a espiritualidade salesiana perpassa toda a proposta educativa da escola, o Ensino Religioso é uma disciplina específica, ministrada por um educador designado para essa área do conhecimento.
Pausa para o vídeo...
Em vídeo-palestra gravado em março de 2013, o padre salesiano Wolfgang Gruen apresenta aos educadores das escolas católicas o que é o Ensino Religioso e suas principais características. Assista ao vídeo “O Ensino Religioso na RSE - Breves Reflexões”.
Atividade
Esta aula mostrou que o núcleo central da espiritualidade salesiana é a caridade pastoral (o amor do bom pastor), que se expressa na alegria, na esperança e no otimismo diante da vida e no trabalho com os jovens. Essa espiritualidade influencia também a prática dos educadores nas casas salesianas. A partir das reflexões feitas no decorrer desta aula, produza uma representação do lema “Entusiasmo diante da vida”.
Poderá criar um texto, uma música, um poema, um desenho, uma montagem fotográfica...
Use sua criatividade e os recursos que preferir para compartilhar com outros educadores a sua visão da espiritualidade salesiana.