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Olá, bem-vindo à Formação em Salesianidade para Educadores Iniciantes.
Nesta primeira aula, o objetivo é apresentar os principais desafios e as responsabilidades da instituição católica salesiana por meio de seus educadores.
O curso tratará sobre qual é a missão de uma casa salesiana, a maneira como são vistas nessas instituições a educação e a formação dos jovens na atualidade, e qual é a contribuição do educador salesiano em tudo isso.
1.1 Contextualização
A primeira reflexão é sobre o título deste curso: “Formação em Salesianidade para Educadores Iniciantes”. É um curso para iniciantes, ou seja, para aqueles que acabam de ingressar em uma casa salesiana: uma instituição católica que segue os princípios e ensinamentos deixados por Dom Bosco, fundador da Família Salesiana, e Madre Mazzarello, cofundadora do Instituto das Filhas de Maria Auxiliadora.
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Vamos fazer uma pausa breve para conferir uma versão resumida da história de São João Bosco, fundador da Família Salesiana.
Assista com atenção ao vídeo “Dom Bosco - Pai e Mestre da Juventude”.
Alguns temas tratados neste vídeo serão aprofundados nas próximas aulas, mas é importante saber que a Família Salesiana tem uma missão: a educação e a evangelização da juventude à luz do Sistema Preventivo de Dom Bosco. Essa missão é iluminada por um carisma, que é o dom da predileção pelos jovens. Toda casa salesiana está a serviço desse carisma.
Chama-se de “Salesianidade” à espiritualidade da Família Salesiana e aos traços específicos dessa missão educacional e evangelizadora. Desse modo, compreende as crenças e valores, estilo de educação, patrimônio histórico, cultural e espiritual da Família Salesiana. Esse é o sentido desta formação: considera-se essencial que todos os colaboradores compreendam em profundidade o que é a salesianidade, justamente porque estarão, no seu dia a dia, construindo na prática e tornando realidade a missão da casa salesiana em que trabalham.
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Vamos fazer uma pausa breve para compreender melhor o que é “salesianidade”. Em 2010, a Rede Salesiana de Escolas promoveu o concurso “Meu S é assim”, no qual os alunos de escolas da Rede produziram vídeos de até um minuto sobre a alegria de pertencer a uma casa salesiana.
Os vídeos não são institucionais: foram feitos pelos alunos, alguns orientados por professores, mas de maneira independente.
Entretanto, para efeito de organização, estão diferenciados a seguir pelos nomes dos colégios. Conheça alguns deles!
Colégio Salesiano Região Oceânica
Colégio Cavalieri
Instituto Nossa Senhora Auxiliadora
Instituto Maria Auxiliadora
Cerca de 70 escolas da Rede participaram do concurso. E foram muitas as formas encontradas para dizer o que significava, para cada um, estudar em uma instituição salesiana. Nos quatro vídeos apresentados anteriormente, há uma boa variedade nesse sentido. Mas também há um ponto em comum: há um sentimento de pertença, de orgulho por fazer parte do projeto educacional salesiano. Esse sentimento está relacionado à qualidade do ensino oferecido, e também aos valores transmitidos e à postura carinhosa e companheira dos educadores.

A missão educativa salesiana tem os religiosos e as religiosas como núcleo animador e colaboradores, leigos e leigas, como corresponsáveis e sujeitos ativos (CG21. sdb), portadores de uma contribuição original para a realização dessa missão. Ela perpassa todos os que se sentem vocacionados pela proposta salesiana de ter o jovem como centro e finalidade de sua ação. Trata-se do papel fundamental que os educadores leigos assumem na propagação do carisma salesiano.
Aqui entra a segunda parte do título deste curso: ele é voltado para “Educadores Iniciantes”. Se você não é da área pedagógica, deve estar se perguntando se essa formação é adequada para você... A resposta é: Sim. Porque em uma casa salesiana – seja escola, obra social, faculdade, paróquia, gráfica, emissora de rádio ou outra obra – todos os colaboradores são considerados Educadores. Ou seja, todos, independentemente da função que exerçam, são corresponsáveis na missão educativa e evangelizadora salesiana.
Esse aspecto é muito claro em todo o projeto educativo-pastoral salesiano. Está explícito no Marco Referencial do Projeto Pedagógico da Rede Salesiana de Escolas, como o primeiro item entre as crenças e os valores que formam a base motivadora dessa rede: “Na comunidade educativa, todos são educadores e vivem essa sua missão como compromisso de vida” (Marco Referencial do Projeto Pedagógico, p. 6). Ao explicar a Comunidade Educativo-Pastoral (CEP), o Quadro Referencial da Pastoral Juvenil Salesiana dos Salesianos de Dom Bosco (SDB) ressalta a união necessária entre religiosos e leigos, bem como a contribuição de todos na evangelização e na educação:
A evangelização é fruto do itinerário comum, da missão entre consagrados e leigos que unem suas forças em colaboração no intercâmbio de dons, embora nas diferenças de formação, tarefas, carismas e graus de participação nessa missão. Comunidade em que todos, consagrados e leigos, são sujeitos ativos, protagonistas da evangelização dos indivíduos e das culturas (cf. Christifi deles Laici 55-56; CG24, n. 96) (Quadro Referencial da Pastoral Juvenil Salesiana, p. 108)
As Filhas de Maria Auxiliadora (FMA) também destacam a contribuição dos educadores leigos como essencial na missão educativo-pastoral: “Com a própria competência profissional, eles assumem corresponsavelmente o projeto educativo, e se dedicam a preparar as novas gerações para que possam inserir-se adequadamente no mundo do trabalho, na sociedade e na Igreja” (Linhas orientadoras da missão educativa das FMA, p. 29).
1.2 Desafios da educação na atualidade.

Mas em que consiste a missão de educar e evangelizar as crianças, os adolescentes e os jovens nos dias de hoje? Quais são os desafios colocados para a educação, e em especial a educação católica e salesiana, na atualidade?
O mundo passa hoje por tempos de mudança. Há uma verdadeira revolução de conceitos, de organização social e de valores, que afeta todos os setores: econômico, social, político, cultural, religioso e educacional, entre outros. Como já avaliava a V Conferência Geral do Episcopado Latino-Americano e do Caribe, em 2007, vivemos uma:
Mudança de época e seu nível mais profundo é o cultural. Dissolve-se a concepção integral do ser humano, sua relação com o mundo e com Deus. Surge hoje, com grande força, uma sobrevalorização da subjetividade individual. Independentemente de sua forma, a liberdade e a dignidade da pessoa são reconhecidas. O individualismo enfraquece os vínculos comunitários e propõe uma radical transformação do tempo e do espaço, dando papel primordial à imaginação. Os fenômenos sociais, econômicos e tecnológicos estão na base da profunda vivência do tempo, o qual se concebe fixado no próprio presente. Deixa-se de lado a preocupação pelo bem comum para dar lugar à realização imediata dos desejos dos indivíduos, à criação de novos e muitas vezes arbitrários direitos individuais, aos problemas da sexualidade, da família, das enfermidades e da morte. (CELAM. V Conferência Geral do Episcopado Latino-Americano e do Caribe. Documento de Aparecida. São Paulo: Paulus, 2007, n. 44, APUD: Mendonça Filho: Formação de educadores salesianos III, p. 18).
Vivemos em “tempos líquidos” (BAUMAN, 2006), nos quais uma globalização negativa, centrada no capital e no mercado como grande regulador, tem consequências arrasadoras, especialmente para os setores sociais e os países mais pobres, os que são excluídos do mercado. Essa globalização, fundamentalmente financeira, gera consequências em todas as esferas das relações humanas (BAUMAN, 1998 E 1999). O eixo pelo qual as questões humanas, sociais e religiosas são pensadas passa do coletivo para o individual, e há um esvaziamento das instituições que formavam a base de organização da sociedade.
O Estado, antes a instância maior de organização social, afasta-se gradativamente do gerenciamento da coletividade. A família não é mais a principal responsável por definir as regras de conduta social dos indivíduos. A Igreja, que durante séculos exerceu forte influência, no Ocidente, para a conformação de princípios e valores que formavam a base para a organização da vida individual e coletiva, hoje perde espaço para a supremacia do mercado, no qual princípios éticos e morais são desconsiderados em nome do consumo e do sucesso individual.
A escola não fica alheia a esse processo. Antes entendida como o espaço por excelência para a transmissão do saber, a escola hoje é um entre muitos locais em que se pode buscar conhecimento. Com as novas tecnologias disponíveis, especialmente a internet, abriu-se um leque imenso de fontes de informação; e a reflexão sobre essas informações passa pelas redes sociais e de relacionamento, tanto quanto (ou mais) do que pela sala de aula.
Diante disso, torna-se urgente a compreensão de que a escola cumpre um novo papel na organização e na transformação social, que não é mais o de transmitir conhecimento apenas, mas sim o de preocupar-se com uma educação integral, que considere as diferentes dimensões da vida: biológica, intelectual, psicológica, social e, também, a dimensão do transcendente. A escola pode ainda ser o lugar do conhecimento, porém em uma relação dialógica e propositiva, na qual o educador é aquele que conduz o educando na construção de seu próprio conhecimento. Trata-se de compreender o educador como aquele que ajuda o aluno a interpretar as informações (recebidas na escola ou de outras fontes), a refletir a partir delas e a tomar atitudes a partir de seu conhecimento.
É este o sentido para o qual aponta o relatório da Unesco sobre educação para o novo milênio: “Vivermos juntos em harmonia deve ser o fim último da educação no século XXI”.
1.3 Sob a ótica da educação católica

Dom Tarcísio Scaramussa, SDB, faz um resumo interessante dos estudos da Igreja Católica e da UNESCO sobre a educação para o século XXI, apontando como as duas instituições convergem ao tratar dos desafios colocados para a atualidade. Ele começa com a visão da Igreja sobre a educação, que está fundada no decreto Gravissimum Educationis (1965), um dos principais documentos do Concílio Vaticano II.
Em síntese, esse documento afirma que: “a educação católica é uma educação centrada na pessoa humana na sua integralidade, servida por uma comunidade educativa, aberta à sociedade no seu conjunto” (“A atualidade do Sistema Preventivo como pilar da educação salesiana”, In: Trilhas do Saber, p. 132).
Ao longo dos anos, a Congregação para a Educação Católica publicou alguns documentos para aprofundar os conteúdos do decreto e para adaptá-lo à necessidade de responder a novos desafios, colocados pelas mudanças na sociedade, pelos avanços tecnológicos e pelas novas necessidades e demandas das juventudes, entre outros pontos. Esses documentos podem ser agrupados (cf SCARAMUSSA, Tarcisio, 2015, p. 132) em torno de quatro campos: a identidade da escola católica e de sua missão, os educadores da escola, a dimensão religiosa da escola católica e a educação sexual.
Ao se completarem 50 anos da Gravissimum Educationis, em 2015, a Igreja lançou um instrumento de trabalho intitulado “Educar hoje e amanhã. Uma paixão que se renova”. Clique aqui para acessar: goo.gl/IpK8MT
“O texto aponta os principais desafios para a educação hoje e propõe uma reformulação da visão da Igreja sobre a educação, partindo de uma reflexão profunda sobre o homem moderno e sobre o nosso mundo atual”, conforme destaca dom Tarcísio Scaramussa:
- Superar a visão funcionalista da educação, colocada em função da economia de mercado e do trabalho, e reforçar o sentido da educação integral, centralizada na pessoa que aprende, levando em conta o pluralismo e a diversidade de valores, e da história de vida de cada um;
- Redefinir a identidade da escola católica, a partir da experiência acumulada desde o Concílio, com base nos três pilares da tradição do Evangelho, da autoridade e da liberdade;
- Entender a educação não apenas como conhecimento, mas também como experiência;
- Desenvolver comunidades educativas, com uma visão de circularidade nos relacionamentos qualificando as relações entre educadores e educandos, pais e educadores, restaurando o sentido de autoridade a partir do testemunho de coerência na vivência dos valores e de serviço;
- Formar ao diálogo entre fé e cultura e ao diálogo inter-religioso, em contexto de multiculturalismo e multirreligiosidade;
- Formar os professores, os dirigentes e todo o pessoal envolvido na escola e na universidade para que “tenham a capacidade de criar, de inventar e de gerir ambientes de aprendizagem ricos de oportunidades; deseja-se que sejam capazes de respeitar as diversidades das inteligências dos estudantes e de guiá-los numa aprendizagem significativa e profunda; exige-se que saibam acompanhar os alunos rumo a objetivos elevados e desafiantes, demonstrar elevadas expectativas em relação a eles, envolver e relacionar os estudantes entre eles e com o mundo” (“A atualidade do Sistema Preventivo como pilar da educação salesiana”, In: Trilhas do Saber, p. 133, 134).
Dedique alguns minutos para reler os desafios apontados e refletir sobre eles, especialmente o primeiro item e o último.

Ao afirmar que é preciso “superar a visão funcionalista da educação, colocada em função da economia de mercado e do trabalho” de um lado, e “reforçar o sentido da educação integral”, de outro, a Igreja Católica considera que a educação deve formar seres humanos para a vida, para uma sociedade melhor, para um mundo melhor. Não basta ter o domínio da técnica e transmitir quantidade de informação. A educação inclui um projeto de ser humano e de sociedade que se quer construir.
Os conteúdos e métodos de um projeto educativo devem responder às exigências relativas ao pleno desenvolvimento da pessoa (que tipo de cidadão queremos formar) e às exigências relativas ao tipo de sociedade que queremos construir (para que tipo de sociedade). Tanto os conteúdos como os métodos devem contribuir para a formação de uma pessoa autônoma, solidária e competente. Que tipo de homem queremos formar? Qual educação é adequada para um projeto de homem solidário e autônomo, capaz de equilibrar a transformação produtiva e a equidade social? (“A atualidade do Sistema Preventivo como pilar da educação salesiana”, In: Trilhas do Saber, p. 136).
Esse é um ponto muito importante, porque significa que, mesmo quando se fala de uma instituição de ensino privada (uma escola ou uma universidade particular), essa instituição tem uma função social, como afirma o documento da Congregação para Educação Católica:
Deste modo, torna‐se claro o caráter público da escola católica, que não surge como iniciativa privada, mas como expressão da realidade eclesial, por sua natureza revestida de caráter público. Ela realiza um serviço de utilidade pública e, embora se apresente declaradamente na perspectiva da fé católica, não é reservada só aos católicos, mas abre‐se a todos que mostrem apreciar e partilhar uma proposta de educação qualificada...” (A Escola Católica no Limiar do novo Milênio, 1997, n. 16)
Toda educação deveria ser pública, como bem afirmava Dom Bosco: “Formar bons cristãos e honestos cidadãos”, para que deem uma contribuição efetiva para melhoria da sociedade.
1.4 Princípios fundamentais
Foto: lançamento da Campanha da Fraternidade 2016 no Instituto Nossa Senhora da Glória (INSG-Castelo), em Macaé-RJ
A Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (UNESCO) tem promovido uma reflexão profunda sobre os desafios para a educação no século XXI. A linha adotada pela UNESCO também ressalta uma educação baseada nos princípios de respeito à vida e à dignidade humana, solidariedade e justiça social. Um dos principais documentos da instituição nesse sentido é “A educação encerra um tesouro”, ou o “Informe Delors”, que propõe quatro pilares pedagógicos fundamentais: aprender a ser, aprender a conhecer, aprender a fazer e aprender a conviver.
Esses princípios nortearam a formação, 15 anos atrás, da Rede Salesiana de Escolas. Porém, foi acrescentado mais um pilar pedagógico: aprender a crer. Embora o Marco Referencial tenha sido escrito especificamente para as escolas formais, o detalhamento sobre como se compreende cada um desses pilares é aplicável a todas as casas salesianas:
a) espaço educativo para aprender a aprender, resgatando a função primeira da escola que é formar a pessoa, preparando-a para discernir e enfrentar as mudanças de uma sociedade em constante transformação;
b) espaço educativo para aprender a fazer, onde se oferecem condições, proporcionais ao estágio de desenvolvimento do educando, para a aquisição de habilidades e competências práticas;
c) espaço educativo para aprender a ser, isto é, um ambiente favorável à construção e enriquecimento da identidade pessoal e coletiva;
d) espaço educativo para aprender a conviver, o que significa que, além de acolher o aluno e sua família numa comunidade diferenciada, o modo de trabalho deve permitir a vivência de situações especialmente planejadas para a formação de uma identidade ativa e solidária com o grupo social;
e) espaço educativo para aprender a crer, tanto em relação aos valores essenciais à convivência humana e à promoção da dignidade da pessoa quanto em relação aos valores transcendentais cristãos. (Marco Referencial do Projeto Pedagógico, p. 5).
Aqui cabe uma explicação sobre o que significa ser um “espaço educativo para aprender a crer”: é preciso compreender que a instituição salesiana é católica e que, portanto, os valores cristãos devem estar presentes na prática pedagógica dessa instituição. Contudo, não se trata de restringir os educandos somente aos jovens católicos ou cristãos – há, entre os alunos e atendidos pelas instituições salesianas, pessoas de diversas tradições religiosas, e todas são respeitadas. Tampouco, exige-se que todo educador professe a fé católica. Porém, é preciso compreender que a instituição salesiana é católica e que, portanto, os valores cristãos devem estar presentes na prática pedagógica dessa instituição. A escola católica é chamada a, preservando sua identidade, sua antropologia cristã, abrir-se ao diálogo ecumênico e interreligioso.
Os desafios da educação na atualidade e como a instituição educacional católica deve se posicionar foram algumas das questões discutidas no Congresso Mundial promovido pela Congregação para a Educação Católica em 2015, e que teve como tema central o mesmo título do último documento da Igreja sobre educação: “Educar hoje e amanhã. Uma paixão que se renova”. O Papa Francisco dirigiu algumas palavras aos participantes do Congresso, provenientes de todas as partes do mundo, nas quais ressaltou a maneira como a educação “tornou-se também demasiado seletiva e elitista” na atualidade.
O Sumo Pontífice ressaltou a necessidade de que a educação católica ajude a que o Estado, a família e as instituições de ensino retomem suas responsabilidades educativas. E apontou que a educação deve ser realizada em três “linguagens” coligadas: da mente, do coração e das mãos.
Ensinar a pensar, ajudar a ouvir bem e acompanhar no fazer, ou seja, que as três linguagens estejam em harmonia; que a criança, o jovem, pense aquilo que sente e faz, sinta aquilo que pensa e faz, e faça aquilo que pensa e sente. E deste modo, a educação torna-se inclusiva porque todos têm um lugar; inclusiva também humanamente (FRANCISCO. Discurso do Papa Francisco aos participantes do Congresso Mundial promovido pela Congregação para a Educação Católica com o tema: “Educar hoje e amanhã. Uma paixão que se renova”. Sábado, 21 de novembro de 2015).
Considerando que o mundo não pode se desenvolver com uma educação seletiva, que privilegia alguns e exclui outros, o Papa Francisco citou o educador brasileiro Paulo Freire para ressaltar qual é o compromisso social da escola católica:
Um grande educador brasileiro — há aqui brasileiros? — um dos vossos dizia que na escola — na escola formal — se devia evitar cair apenas num ensino de conceitos. A verdadeira escola deve ensinar conceitos, hábitos e valores; e quando uma escola não é capaz de fazer isso, essa escola é seletiva, exclusiva e para poucos (Discurso do Papa Francisco aos participantes do Congresso Mundial de Educação Católica).
Os diversos aspectos da pedagogia salesiana serão aprofundados ao longo deste curso. Porém, é importante já destacar que a proposta educativa salesiana está em consonância tanto com as diretrizes apontadas pela Unesco, como em relação às discussões mais atuais feitas pela Igreja Católica sobre o tema. O sistema preventivo, sobre o qual se fundamenta a pedagogia salesiana, propõe três pilares fundamentais para a educação: razão, fé e amor educativo. É a união desses três fatores, sem privilegiar nenhum deles, que compõe o diferencial da educação salesiana.
1.5 O papel do educador

Retomemos agora o último dos desafios apontado no documento “Educar hoje e amanhã. Uma paixão que se renova”:
Formar os professores, os dirigentes e todo o pessoal envolvido na escola e na universidade para que “tenham a capacidade de criar, de inventar e de gerir ambientes de aprendizagem ricos de oportunidades; deseja-se que sejam capazes de respeitar as diversidades das inteligências dos estudantes e de guiá-los numa aprendizagem significativa e profunda; exige-se que saibam acompanhar os alunos rumo a objetivos elevados e desafiantes, demonstrar elevadas expectativas em relação a eles, envolver e relacionar os estudantes entre eles e com o mundo” (“A atualidade do Sistema Preventivo como pilar da educação salesiana”, In: Trilhas do Saber, p. 134).
Nas instituições educacionais católicas – e nas casas salesianas, entre elas – o papel do educador é essencial para que se possa cumprir a missão educativa. A educação integral, que assume sua responsabilidade social, que forma cidadãos conscientes e capazes de transformar a realidade em que vivem, só é concretizada pela ação do educador.
Em uma palestra sobre “A escola católica em tempos de travessia”, o padre salesiano Marcos Sandrini coloca a dimensão do educador como um dos cinco elementos essenciais que diferenciam a educação católica no contexto educacional brasileiro da atualidade.
Pausa para o vídeo...
Vamos fazer uma pausa breve para assistir a um trecho da palestra sobre “A escola católica em tempos de travessia”, feita pelo padre Marcos Sandrini.
Nesse vídeo, padre Marcos Sandrini fala no educador como elemento fundamental para que a concepção de educação católica salesiana seja concretizada. Ele ressalta, especialmente, que o educador deve ter “amor pedagógico”, ou seja, deve realizar seu trabalho com carinho, responsabilidade, alegria, dedicação.
Ele destaca também que o educador deve fazer um acompanhamento “sábio e respeitoso” dos alunos. Veja: acompanhar não é só ensinar. É estar ao lado, ser referência educativa e incentivador do aluno, um aspecto muito importante da pedagogia salesiana sobre o qual vamos tratar em uma próxima aula. Por fim, ao educador cabe também buscar sempre a excelência profissional e estar aberto às novas tecnologias: ele não é uma pessoa acomodada, mas sim um profissional disposto a se aprimorar constantemente e a acompanhar as mudanças.
O Papa Francisco tratou de uma maneira muito explicativa sobre esse aspecto da qualificação dos educadores em 2014, durante uma audiência com a Congregação para a Educação Católica. O Papa afirmou: “hoje a educação é dirigida a uma geração em fase de mudança e que, portanto, cada educador — e a Igreja inteira, como Mãe educadora — é chamado a ‘mudar’, no sentido de saber comunicar com os jovens que estão à sua frente” (Discurso do Papa Francisco em Audiência com a Congregação para a Educação Católica).
Com referência ao perfil do educador, ao que se espera dele em uma instituição católica, o Papa considerou:
Educar é um gesto de amor, é dar vida. E o amor é exigente, requer que utilizemos os melhores recursos, que despertemos a paixão e que nos coloquemos a caminho com paciência, juntamente com os jovens. Nas escolas católicas, o educador deve ser antes de tudo muito competente, qualificado e, ao mesmo tempo, rico de humanidade, capaz de permanecer no meio dos jovens com um estilo pedagógico, para promover o seu crescimento humano e espiritual. Os jovens têm necessidade de qualidade do ensino e igualmente de valores, não apenas enunciados, mas testemunhados (Discurso do Papa Francisco em Audiência com a Congregação para a Educação Católica).
Ampliando os Saberes...
Caso você queira aprofundar seus conhecimentos sobre o tema desta aula, vários dos textos e vídeos citados podem ser obtidos pela internet.
O vídeo “A escola católica em tempos de travessia”, com padre Marcos Sandrini, está disponível na íntegra em:
“A atualidade do carisma de Dom Bosco – Parte 1”, com a irmã Ivanette Duncan de Miranda, trata sobre a salesianidade e pode ser visto gratuitamente em:
O livro Trilhas do Saber, no qual está inserido o artigo “A atualidade do Sistema Preventivo como pilar da educação salesiana”, do padre Tarcísio Scaramussa, tem download gratuito no site da EDB Brasil: : http://www.edbbrasil.org.br/literatura-salesiana/..
Os discursos do Papa Francisco estão disponíveis no site do Vaticano: goo.gl/QKGfiY.
Para acessar a íntegra do documento “Educar hoje e amanhã. Uma paixão que se renova”, o link é: goo.gl/IpK8MT.
Assim, com uma reflexão sobre as palavras do Papa Francisco sobre o educador nas escolas católicas, encerramos nossa primeira aula. Tratamos, nesse primeiro momento, das características da educação católica, dos desafios colocados na atualidade e de como a instituição salesiana está inserida nesse processo. Iniciamos a reflexão sobre os aspectos próprios que assume a educação católica salesiana. Apontamos também o que se espera do educador em uma casa salesiana, qual a postura e os compromissos que ele deve assumir.
A partir de agora, vamos aprofundar os conceitos e diretrizes da “salesianidade”, começando pelos ensinamentos deixados pelos fundadores da Família Salesiana: Dom Bosco e Madre Mazzarello. São eles os personagens principais de nossas próximas duas aulas. Até lá!
Atividade
Atenção! Está é uma atividade avaliativa
Visite o espaço da casa salesiana em que você trabalha. Ela é uma escola, uma obra social ou outro tipo de instituição? Qual é o trabalho que essa casa salesiana desenvolve? Faça uma reportagem sobre a instituição salesiana em que você está e de que maneira ela atende à missão de ser um espaço para os jovens. O trabalho pode ser apresentado na forma de texto, apresentação eletrônica ou em um vídeo curto. Coloque em prática sua criatividade.